30/12/2010

Presságios para 2011

Existem muitas formas de encarar os fenômenos naturais como este da passagem do ano, do fechamento de uma década. O comportamento dos indivíduos varia conforme sua personalidade, seu momento e mesmo sua necessidade. Há os que são indiferentes, que não prepararão nada, que se distanciarão do ritual de passagem, se esconderão na hora da contagem regressiva, dos pulinhos sobre as ondas, da lentilha no bolso e de tantas outras artimanhas construídas ao longo do tempo por supersticiosos de toda ordem. Há os empolgadíssimos, movidos pela magia da mudança, que apostam em venturas sem trabalho, em resultados mágicos, como a sorte fosse escolhê-los entre todos os outros e, embalados por um cervejão ou por espumante, quando as badaladas anunciarem a chegada de 2011 e da segunda década do século, após todos os rituais possíveis e imagináveis, repetirão a velha canção que animava o fim de ano da Globo nos anos 70: “o tempo passa e com ele caminhamos todos juntos, sem parar, nossos passos pelo chão vão ficar”.

29/12/2010

O tempo voa

O tempo passa. O tempo voa. Dizia uma peça publicitária do banco Bamerindus, de presença marcante nos intervalos comerciais dos anos 80 e 90 na TV brasileira. A instituição financeira foi engolida nos anos 90 pelo processo de quebradeira, venda e fusões do sistema bancário. O bordão, no entanto, permanece vivo. E, mais do que isso, auxilia no entendimento de algo que já foi de difícil compreensão: a relatividade do tempo.
O tempo passa conforme o nosso ritmo. Contemplativos, diante de uma paisagem relaxante, na praia – acompanhando o vai e vem das ondas; no campo – ouvindo o leve deslocar das folhas respondendo à brisa; o tempo, com certeza, passa de uma forma vagarosa. Envolvido em atividades repetitivas, o dia parece pequeno diante do número de atividades que devemos completar. Aí falta tempo.

28/12/2010

Lista de boas intenções para o novo ano

Costume é costume. Inevitável, mesmo para os céticos de toda a ordem, que sejam formuladas listas e mais listas de boas intenções para o ano vindouro. Alguns dos itens são arroz de festa, outros nem tanto. Encontrar um tempo para praticar uma atividade esportiva, aderir a uma causa nobre, economizar, nem que seja alguns trocados por mês, assumir um humor diferente, comprar um carro, pode até ser um usadinho, em bom estado, evidentemente.
O certo é que ninguém escapa da tentação de planejar algumas coisas para o ano que vem. O fechamento de um ciclo e a abertura de um novo nos impulsiona, nos dá coragem para realizar um balanço de nossas vidas. E isto, convenhamos, é muito bom. Raramente temos momentos de análise verdadeira sobre o caminho que estamos trilhando. Poucas são as oportunidades que se apresentam mais adequadas para planejar mudanças. Mais raros, ainda, os momentos em que paramos e chegamos à conclusão de que há mudanças por fazer.

22/12/2010

Os meninos e o tempo

O tempo passa rápido. É o que se diz! Natal, amigo secreto familiar, festa de final de ano, espumante, ceia, fogos de artifício. Verão, Carnaval, início de aulas para a garotada. IPVA, IPTU. Quando se vê, lá se foi o verão, as frutas amadurecidas começam a dar o ar da graça. A brisa dá lugar, lentamente ao frio, que vai aos poucos se tornando mais intenso. Inverno, chuvas e mais chuvas, ventos e mais ventos. Primavera, flores, dias mais longos. O sol aparece com mais decisão, enterrando os finais de tardes sombrios e encasmurrados. Dia da Pátria, do Gaúcho e, num passinho os papais noéis, que pareciam aprisionados, partem desfilando pelas ruas de Gramado e Canela. Invadem a cidade, a tevê, os jornais, tomam de assalto todos os espaços possíveis.

15/12/2010

Papai Noel fuma charuto e bebe Coca-Cola

A figura lendária do Papai Noel ganha, nestes tempos, um destaque extraordinário. Ela ativa em todos pelo menos dois sentimentos o de dar e o de receber. Vocacionado marqueteiro, midiático, o Bom Velhinho é o grande personagem do momento. Sua imagem, porém, foi sendo construída ao longo dos séculos até chegar ao que é hoje, um idoso fora de forma que usa roupas inadequadas ao Sul do Equador.
Conta-se que São Nicolau, bispo católico, é a origem histórica de Noel. Em sua cidade três irmãs em idade de casar, de família pobre e sem condições de oferecer dote, viviam as agruras dos excluídos. As opções seriam a solteirice eterna ou a prostituição. Conhecedor do caso, o Bispo Nicolau rondou a casa e, à noite, jogou três saquinhos de moedas para amenizar a dor do paupérrimo pai. Um deles foi jogado pela lareira e caiu dentro de uma meia colocada estrategicamente para secar. Divulgada a história, difundiu-se na comunidade o hábito de presentear os desafortunados.

O imponderável Mazembe

Goleiro Kidiaba (arte sobre foto)
Um dirigente colorado, com quem convivi durante bom tempo nas coberturas diárias como repórter no Beira-Rio pelo Correio do Povo - lá na distante década de 80 -, quando encontrava-se em dificuldades para explicar problemas que pareciam sem solução se utilizava com frequência da expressão "imponderável". No dicionário o vocábulo é, entre outras coisas, definido como circunstâcia difícil de avaliar, de prever . E esta foi a impressão que me ocorreu no decorrer do jogo entre Inter x  Mazembe, pelo Mundial de Futebol e, especialmente, no final da partida.

12/12/2010

O amigo secreto

Há algumas coisas que não podemos deixar de fazer, mesmo contrariando nossa vontade.  Nesta época então, de Natal e final de ano, crescem sobremaneira estas situações. Uma delas é participar do amigo secreto, amigo oculto, amigo x ou outro nome qualquer que a brincadeira possa receber. Fora de questão está, por exemplo, ser o único a não participar do amigo secreto em nosso local de trabalho. Ficar de fora não é uma boa atitude. 
Já que é inevitável mesmo, alguns cuidados devem ser tomados, especialmente se houver o clássico momento da revelação. Cuidado, muito cuidado na hora de caracterizar o nosso amigo. Atenção, não é hora da desforra! Não é hora de jogar na cara do sujeito aquela verdade que ficou oculta, escondida secretamente em nosso íntimo. Não é de bom tom usar este momento para a vingança, mesmo que lá no íntimo resida a certeza de que o sujeito bem que merecesse.

08/12/2010

A bactéria sutil

A NASA, após pesquisar a sobrevivência de uma bactéria em local desprovido de Oxigênio, Hidrogênio, Fósforo, Carbono, Enxofre e Nitrogênio, anunciou que existe viabilidade de vida fora das formas admitidas pelo conhecimento até então existente. É uma revolução. A partir daí, dizem os especialistas no assunto, os cientistas estão obrigados a mudar seus conceitos sobre a vida. Isto porque a teimosa bactéria, contrariando a lógica até então aceita, se desenvolveu em meio hostil, em contato com o venenoso Arsênico.
A descoberta abriu o leque de discussões. Ora, se depois de tanto tempo um dos princípios basilares do conhecimento foi debelado por uma simples bactéria, tantos outros haverão de cair ao longo do tempo. Aparentemente duros, inquebráveis, irremovíveis como uma rocha, os princípios científicos, como se vê, são tênues. Isto porque o Universo é grandioso, infinito e nosso conhecimento, convenhamos, ainda é rasteiro.

06/12/2010

Viagem pelo universo

O canal de televisão History apresenta uma série onde o astro central é nada menos do que O Universo. Não é pouca coisa. Ainda mais nos tempos atuais onde as nossas preocupações estão relacionadas às tarefas mais instintivas, automáticas e desprovidas de sabor. Manter o trabalho em dia, levar as crianças para a escola, cuidar da pintura da casa, pagar os carnês no final do mês, enfim, tarefas de administração doméstica. Claro que os cuidados com a rotina são indispensáveis. Não devemos, de forma alguma, descuidar sob pena de incomodações futuras.
No entanto, mesmo que mantenhamos literalmente os pés no chão, é indispensável que vez por outra nossas preocupações sejam um pouco mais transcendentais. Afinal de contas, há muito sabemos que existe mais do que a vivência física. Embora a ciência atual esteja tateando o mundo imaterial, os homens primitivos já mostravam, entre as diárias lutas sangrentas para transformar as feras de então em uma apetitosa refeição, que não é só de carne que vive o homem. Foram eles, os seres não-intelectualizados, dotados de grandes doses de instinto, que intuíram a grandiosidade das coisas.

01/12/2010

Um Rio em chamas

O sofrimento dos cariocas, acossados por tiros de todos os lados, pela opressão do tráfico, pela invasão de policiais, começou há pelo menos 40 anos atrás. O Estado de Direito deixou de existir nas zonas mais pobres. O malandro carioca, que viva de pequenos delitos, ingênuo, divertido, sumiu do mapa. É peça de museu. Em seu lugar surgiram outros tipos, nada ingênuos. Dispostos a comandar o pedaço, constituíram um estado próprio, cuja economia se baseou no comércio de drogas.
O estado da marginália governou por muito tempo. Acostumados à impunidade, criaram normas de conduta, tribunais e até mesmo programas sociais. Conveniência política e incompetência administrativa, dizem os especialistas, foram os responsáveis pelo fortalecimento deste governo da delinquência. Teve tempo para tomar corpo, crescer e se tornar indispensável para muitos. Milhares de cidadãos, residentes nestas zonas hoje em conflito, não conhecem outra realidade.