Tenho uma querida amiga que adora
arroz com leite. Arroz doce, dizem alguns. Não importa. Vez por outra, ela
posta nas redes sociais pedidos de arroz com leite. E não é que vez de vez em
quando ela recebe em sua loja algum
visita trazendo uma provinha da iguaria. E, publicamente, agradece o agrado,
abrindo brechas para futuras ações semelhantes.
Tenho
uma amiga que não tolera arroz com leite. Ela é vegana. E, como se sabe, não
consome produtos oriundos de animais. Nem mesmo um gostoso arroz com leite,
caprichosamente feito com cravo e canela, coberto por um porção generosa de
canela em pó, a seduz. Pensa menos na satisfação gustativa e mais no sofrimento
causado aos animais pelos exploradores humanos.
Polêmica
à parte, dia desses me aventurei a tentar imitar minha mãe, que enquanto esteve
aqui neste pequeno e limitado mundinho, foi uma mestra na arte de tentar
agradar seus filhos. E o arroz com leite, simples e gostoso, era uma das
fórmulas que lançava mão de vez em quando.
Como
não disponho de tantas informações culinárias em meu currículo, como todos os reles mortais de nosso tempo, busquei na
internet algumas receitas. Jamais imaginei que algo tão simples fosse variar
tanto. Há tentativas das mais diversas, incluindo coisas requintadas e
rebuscadas, tentando tornar o simples em algo classudo. É claro que os gostos
variam de acordo com a região do país. Há os que apostam no leite de coco, nas
doses cavalares de açúcar e em um ou outro ingrediente.
O
certo é que a primeira tentativa não foi digna de elogios. Por um capricho do
destino ou, para ser mais correto, por um erro do cozinheiro, arroz, leite e
açúcar não se entenderam na panela. E o gracioso arroz com leite ganhou uma
consistência estranha, especialmente quando acondicionado num pratinho e
colocado na geladeira. Nunca vi arroz tão endurecido. Para aumentar a maldade,
sugou o leite que o cobria.
Nova
tentativa fiz dia desses. Aumentei o tempo de cozimento do arroz, reduzi
consideravelmente a quantidade de açúcar e de leite. E o resultado foi um pouco
melhor. Um pouco melhor, eu disse. Nada de espetacular, como era minha
expectativa. Como entendo que devemos ser caridosos conosco mesmos,
resignei-me. Não fiquei matutando muito sobre a frustração causada pela
aventura culinária. Uma xícara de café preto ajudou a mascarar um ou outro
defeito.
E
vamos à luta que não dá para parar. Dia desses vou tentar de novo. Quem sabe a
insistência não seja uma lição a ser aprendida. E aí, quem sabe, possa reservar
uma porção para presentear minha querida amiga, sem medo de causar algum
mal-estar.