20/05/2010

Os dramas do escrete canarinho

A última semana foi marcada pela dramaticidade. Dunga foi a figura central de norte a sul deste Brasil varonil. Tão logo anunciada sua lista dos 23 gladiadores que defenderão o selecionado canarinho nas arenas da África do Sul, centenas de comunidades foram criadas na internet, bate-papos se encheram de expressões chulas, sempre com o objetivo de destacar a insensatez, a torpeza e a desfaçatez do comandante da seleção nacional.
Os mais exaltados propunham a incineração do capitão da nau verde e amarela. Sob o mantra “sem Neymar é impossível ganhar”, “sem ganso não haverá avanço”, a turma protestou pesado. Não adiantaram as explicações do comandante que falou sobre comprometimento, doação, atitude patriótica e outros quesitos, aliás, bem fora de moda nos dias de hoje. O drama se arrasta de tal forma que já há inúmeras correntes de torcedores e jornalistas torcendo para que a seleção naufrague de maneira espetaculosa para, depois do barco soberanamente submerso, dizer: “eu não disse, faltou o talento do Neymar, do Ganso”.

Insafisfações nossas de cada dia

Somos bem mais de seis bilhões de seres viventes no nosso planeta. Todos diferentes entre si. Diante disso podemos afirmar, sem medo de errar: não há ninguém que pense exatamente o que penso, que aja exatamente como eu ajo, que sinta exatamente o que eu sinto em toda a Terra.
Há gente de todo o tipo, de todos os estilos, com costumes diversos e seguindo caminhos distintos. Há humildes e afortunados. Há medianos, medíocres, geniais, boçais. Há homens e mulheres bons, sensíveis, caridosos. Há indivíduos que parecem curtidos na senda da maldade.
Há gente humilde, que lida com dificuldade, que corre atrás dos trocados para a conta da água e da luz, que luta freneticamente pelo pão de cada dia, que se dedica com honestidade pela sobrevivência familiar. E, no final do dia, consegue descansar em paz.

O impacto das tecnologias

O impacto causado pelas novas tecnologias na nossa vida é imperceptível, de imediato. Para atingir esta consciência sempre é necessário que voltemos no tempo e analisemos como a vida era diferente há alguns dias atrás, sem a existência do aparelho tecnológico em questão.
Não faz muito tempo, Osório tinha meia dúzia de telefones residenciais. Atrás destes aparelhos havia uma central telefônica e uma competente telefonista que interligava os comunicantes colocando os plugs nos devidos ramais. A telefonista, se desejasse, seria a pessoa mais bem informada da cidade, pois tinha a possibilidade de ouvir tudo o que era comunicado pelo telefone.
A interatividade nos meios de comunicação era quase zero. Ouvinte se manifestava através de recados, cartinhas, deixados numa urna, ou, ainda, ao vivo no estúdio. Osvaldo Aguiar, na Rádio Osório, lutava para colocar no ar os pedidos musicais do ouvinte, sempre pelo telefone. Nos corredores da rádio havia o temor de que o ouvinte não soubesse se comunicar e falasse algo impróprio.
No início dos anos 80, o sistema de comunicação sofreu uma grande alteração. Ainda assim o telefone era um produto para poucos, tanto que a posse de uma linha era declarada no imposto de renda, pois era um bem de valor.

A viagem do som

O Rei, em recente espetáculo em Porto Alegre, comemorando seus 50 Anos de estrada, se surpreendeu ao usar uma expressão fora de moda. Falava ele sobre um disco que havia lançado, quando corrigiu: “Bicho, disco é uma palavra que não se usa mais. Hoje é cd, DVD, blu-ray”.
O que Roberto Carlos constatou, no meio de arranjos caprichados, é aquilo mesmo que nós sentimos, meio por acaso, por acidente. Ao longo do tempo as coisas que conhecemos vão ficando para trás e outras novas, de início desconhecidas, vão aparecendo. No princípio o processo parece lento, mas, de uma hora para outra, há uma substituição completa da tecnologia antiga por uma nova.
As palavras, que caracterizavam a tecnologia antiga, vão, aos poucos, se tornando obsoletas, caindo em desuso. Por outro lado, os indivíduos vão, também, aos poucos perdendo alguns referenciais e substituindo lentamente os hábitos por outros, sem se darem conta.
O caso mais emblemático de mudança de tecnologia ocorreu nos anos 80, com o surgimento do CD, compact-disc, que sepultou o disco de vinil, também conhecido como LP ou Long-Play. Em 1981 o chiado dos velhos discos foi sendo substituído pelo som limpo do cd. Os mais jovens talvez conheçam os vinis somente pelos restos de coleções de seus pais. Os velhos discos da Elis Regina, do Chico Buarque, do Milton Nascimento, do Pink Floyd e talvez algum antigo do Roberto que, guerreiramente ainda resistem em estantes, visíveis ou escondidos em algum cantinho, guardados com esmero ou esquecidos junto de outras tralhas.

16/05/2010

A língua e fluidez

A língua que falamos é um ente vivo. Aparentemente estática, ela, no entanto, sofre interferências ao longo do tempo. Tomemos como exemplo aquela que é a nossa mais íntima, a Portuguesa. A linguagem de Portugal é muito diferente daquela que falamos por aqui. Quando atendemos ao telefone normalmente dizemos alô, nossos irmãos patrícios dizem estou. Isto nos soa um tanto quanto engraçado, pois, na nossa lógica, quem não está não atenderia o chamado.
Em Portugal, cueca corresponde à peça íntima feminina, a calcinha. No futebol, o nosso escanteio é chamado pelos portugueses de pontapé de canto. O mais curioso, no entanto, está na palavra durex. No Brasil é uma marca de fita adesiva, já em Portugal é a denominação popular da camisinha ou condon. Como se vê, uma diferença e tanto.
O vocabulário atual é resultado de um processo de construção. Se nossa raiz é latina, as influências que sofre nossa linguagem vêm de todos os cantos. Uma das grandes influências que sofremos foi dos povos árabes. Expressões como açougue, acácia, aldeia, alface, bairro, bússola, cenoura e até o nosso insuspeito cuscuz, sofreram algumas mutações, atravessaram oceanos e chegaram até nós.

Levando vantagem

Precisamos de certo tempo para a adaptação às novas tecnologias. No passado esse tempo era longo. As mudanças tecnológicas se processavam também lentamente. O consumidor era conservador. Qualquer alteração no produto e, pronto, acabava a fidelidade. Hoje, ao contrário, as novidades aparecem em profusão. Nem bem acostumamos com alguma coisa e, no dia seguinte, surge algo diferente, mais completo, com algum item diferente, prometendo esta ou aquela vantagem adicional.
Da mesma forma com que somos invadidos por novos lançamentos, que, quase sempre, têm como objetivo aumentar a satisfação do usuário; estamos na mira de uma centena de fraudadores, que não têm este nobre objetivo em suas mentes. Ao contrário: querem gerar dor de cabeça em incautos. E eles são espertos. Todas as ferramentas possíveis são usadas para atingirem o resultado. Invadem o celular, o telefone fixo, o endereço de e-mail. Jogam a isca, apresentando um prêmio a quem cultiva a vontade em levar alguma vantagem.

11/05/2010

A missão da paternidade

A função da paternidade mudou. Aliás, como tudo na vida. O papel de um pai nos tempos antigos era um. Hoje, com a alteração dos costumes modificaram-se também as exigências. Num passado distante, cabia ao homem a função de alimentar o bando. Era ele quem saia a campo com sua lança, procurando abater alguma fera para servir de banquete aos seus pares. A mulher das cavernas permanecia sempre ao redor da casa, protegendo a filharada. As funções de sobrevivência foram de fundamental importância para a definição dos conceitos de masculinidade, feminilidade, paternidade e maternidade. O homem, o chefe do clã, o provedor, o que sai de casa para abater a presa, usando de sua audácia e de sua força; a mulher, por sua vez, espera pela volta do seu homem, cuida da prole.
Entre os romanos os pais eram os responsáveis pelo provimento da família, pela religião e pela manutenção da ordem. O pai era um soberano. A família tinha o dever de obediência incontestável. Amor e amizade eram conceitos desconhecidos. Na relação entre o pai e o filho havia somente obediência e respeito. O filho homem, o primogênito, era privilegiado, sendo o herdeiro de todo o patrimônio e responsável pela sequência do ramo familiar. As mulheres deixavam a família sanguínea para serem agregadas à família do marido. Não tinham direito à herança paterna.

07/05/2010

Shazan, Xerife e Cia.

Dia desses encontrei um querido amigo. Parceiro de futebol no campinho da dona Guria, de grandes contendas no campo dos bombeiros, da bola rolando contra o time da Banheira. Dos desenhos animados à tarde, na tevê ainda em preto e branco. Shazan, Xerife e Cia (foto), Moby Dick, As aventuras de Gulliver, Garibaldo, Caco e Sônia Braga - ainda muito jovem-, na Vila Sésamo.
A lembrança das coisas boas que fizemos e vivemos é sempre revigorante. O clima, a ingenuidade, o acerto e o erro, tudo em uma época em que, mesmo sem recursos, sem tecnologia, a vida era, pelo menos para nós, muito saudável. Neste inventário, passamos por aqueles que não nos acompanharam. Buscaram aventuras outras e perderam-se. Um ou outro amigo vencido pelo vício, álcool, canabis ou por coisas mais fortes. Ou, ainda, aquele que ficou no trânsito.
Fui afastado do quadro das memórias, quando ouvi um “no nosso tempo...”. Confesso, sou acometido por certo desconforto quando ouço esta expressão. Talvez tema assumir a propriedade de um tempo passado e, com isso, desqualificar a vida presente. Alguém poderá até achar que é dificuldade em conviver com a passagem do tempo. Mas não é.

03/05/2010

A expectativa de vida

No início do século 19, a expectativa de vida dos brasileiros era de 33 anos de idade. Na Europa, já desenvolvida, havia uma sobrevida, até os 45 anos. Ou seja, as pessoas passavam de jovem a velho em pouco mais de uma década. Não havia, ainda, a adolescência, que somente depois foi estabelecida. O indivíduo era criança, adulto e velho. A vida era rápida. As doenças, a falta de estrutura mínima nas cidades e nos campos, a medicina e a farmacêutica embrionárias certamente contribuíam para que a vida fosse um verdadeiro sopro.
O interessante é que, segundo alguns pesquisadores, o homem primitivo, acossado por feras, por condições climáticas desfavoráveis, por falta de alimentos de qualidade, também tinha a expectativa de vida em no máximo 30 anos.
Com as descobertas científicas, incremento na medicina, investimentos públicos na melhoria de vida, nas campanhas de vacinação e de cuidados com a higiene pessoal, o homem avançou sobremaneira. Febre amarela e varíola, que devoravam populações inteiras, inclusive nas capitais, forma controladas e não assustam mais. Em pouco mais 60 anos a vida do brasileiro sofreu um acréscimo quase dobrando a sua de vida. Os números atuais do IBGE demonstram que a média brasileira é 72,3 anos de vida. Dentro de 20 anos poderá superar os 80 anos.

O lixo e a ideias

A imagem é clássica. Diante de uma máquina de escrever, o indivíduo lida freneticamente em busca de mais um texto. Ao seu lado jaz um monturro de folhas, restos de uma crônica, de uma reportagem, de uma obra qualquer que jamais será lida. O relógio, que em situações normais marca com lentidão a passagem do tempo, parece mesmo conspirar e avança avidamente devorando os segundos com uma pressa incomum em construir o futuro. Não há no mundo alguém que se atreva a escrever que mais dia, menos dia não se encontre no centro desta cena.
Hoje, porém, nem há mais o charme do papel amassado, do monte abarrotando o lixo. As máquinas de escrever são peças de museu. A produção é diretamente na tela, na fria e límpida tela luminosa do computador. Nestes dias de vida virtual, a ferramenta de busca é a salvação da lavoura. O Google, criado em 1996 pelos estudantes Larry Page e Sergey Brin para um projeto de doutorado, é o grande difusor de ideias do mundo. Digite qualquer coisa e encontre uma sugestão em segundos. Claro, o alerta deve ser feito, nem todas as sugestões apresentam qualidade. Há, no mundo da net, muita quantidade e também muito lixo.