30/10/2012

O gol de mão


Poucas vezes o futebol sai das quatro linhas e avança no mundo da filosofia, da ética e da moral.  Isto porque há certo preconceito em relação ao jogo. Talvez por ser popular demais, por envolver paixões desenfreadas de milhares de seres, os cronistas, os pensadores e os debatedores de plantão não invistam parte do seu tempo em discutir de maneira mais amiúde os meandros do esporte bretão. 
Hoje, no entanto, a discussão sobre o que é certo e o que é errado no campo futebolístico têm crescido mundo afora. Na Europa, os atacantes coram as faces quando levam alguma vantagem indevida sobre os defensores. Depois do jogo, invariavelmente, vêm às câmeras de tevê e pedem desculpas aos colegas de profissão, aos jornalistas, aos dirigentes, aos familiares porque não foram corretos em determinado momento. Enquanto isso, por aqui, no “país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza”, a discussão é bem outra.

24/10/2012

Passo em falso


Você acorda cedinho. A primeira ideia que vem à cabeça é de que o dia será um daqueles. Nada dará certo. Tudo o que tiver de ocorrer de errado, acontecerá. “Impressão minha!”, pensará, tentando afastar da mente a mensagem negativa. Um bom banho ajudará a banir aquele pensamento indesejado. Porém, logo ao ligar o chuveiro constata que jorra uma água fria. Mexe daqui, mexe dali e nada. Conclusão: a resistência o deixou na mão, sem nenhum aviso. Duas alternativas restam. Encarar o jato frio ou abortar a chuveirada.
Você acorda cedinho. Os pássaros, alegres como só eles sabem ser, anunciam um novo dia. Abre a janela. O ar puro enche o quarto. Os raios de sol batem nas árvores, ressaltando o verde vibrante da natureza. Mais um dia que chega. Mais uma boa oportunidade pela frente. A melhor roupa já havia sido escolhida. Um banho o espera. Do chuveiro escapa um jato de água fria. “É bom para a saúde!”, pensa, lembrando do seu pai que narrava as dificuldades encontradas quando era um recruta no Exército Nacional. Enfileirados e sem alarido passavam todos por um chuveiro improvisado no meio do pátio. Verão ou inverno, a água fria acordava os corpos que ainda guardavam o cansaço das atividades do dia anterior.
As cenas dos parágrafos anteriores podem ter ocorrido algum dia. Talvez o leitor as tenha vivido em momentos distintos. O que muda, na realidade, é a percepção, o sentimento de cada um. O homem é um mutante. O que hoje parece bom, amanhã bem pode não ser. Além do mais,  para quem vê a vida com a lente do pessimismo, os sinais recebidos serão percebidos sempre pelos aspectos negativos. Já aqueles que riem e acham graça, que percebem um lado bom em tudo, é a do otimismo a lente usada.
Os dias de infância, quando mais nos ocupávamos dos sonhos do que da vida, pareciam reservar a todos os melhores dias. Os dias, porém, avançam decisivamente em direção à maturidade. O tempo passa, mesmo que de maneira imperceptível. Tempos normais, sem atos heróicos.  Passos e passos rumo a um futuro incerto. Às vezes destemidos. Outras vezes nervosos e contidos. O futuro sendo construído aos poucos. De leve, sem alarde.
As crises, o aparente caos, os passos em falso vez por outra constituem aquele tempero necessário para sacudir o cotidiano, para alterar as rotas em direção a outros caminhos antes não percebidos. Alguém lembrará a tão falada “zona de conforto”. A letargia, o costume, a falta de indignação, o comodismo. Coisas do mundo adulto. Nos nossos sonhos infantis, os dias sempre prometiam algo de bom. Um campo aberto para a experimentação sem medo.
E assim é. O futuro está sendo construído. Será o resultado dos pensamentos e ações, dos planos e do trabalho, dos sonhos e de um que outro pesadelo. Os dias nascem independentemente do nosso esforço. Ao final terão sido bons ou ruins, positivos ou negativos, promissores ou não. Tudo isso conforme a percepção de cada um de nós. 
“É bem essa!”, diria um antigo conhecido. 

17/10/2012

O horário de verão


Eis que o horário de verão retorna. E já não era sem tempo. O sol tem se mostrado muito cedo. Às 05h45min começam os primeiros clarões. Poucos minutos depois já é dia. Os pássaros, que se orientam pelos sinais da natureza, desatam sua cantoria alguns minutos antes das 06h da manhã.
Com a mudança no horário, os pássaros levam um drible. Vão cantar um pouco mais tarde. Nós, que não cantamos cedo (no meu caso nem tarde), recebemos alguns minutos a mais de descanso.
Outro aspecto positivo é quanto à duração do dia. Mais tempo para caminhar, para cuidar da horta, para fazer muitas coisas ou mesmo para o ócio. Os dias se alongam. As noites ficam menores por algum tempo.
Claro sempre há os que detestam o horário de verão. Muitos, como os agricultores, por exemplo, não o levam a sério. Tal qual os pássaros, guiam-se pelos sinais da natureza. Trabalham no “horário antigo”. Começam cedo na labuta, interrompem o trabalho quando os raios solares incidem com maior força e depois, no abrandamento da temperatura, retomam suas desgastantes atividades.

Preferência popular
Encontrava-me no interior do interior de um pequeno município agrícola do Litoral Norte do RS. A estrada era poeirenta. O local era belo. Muitas árvores, um riacho. Muitas casas simples. Umas que outras mais elaboradas. Bandeiras amarradas na ponta de taquaras enormes. Cada casa com uma preferência.
A eleição seria alguns dias depois. O clima era de disputa acirrada. Indaguei um dos moradores sobre a movimentação do pleito que se avizinhava. Questionado sobre quem ganharia, respondeu que o certame era complicado. “Aqui temos que escolher entre o velhaco e o ladrão!” disse sem vacilo. Questionado sobre sua preferência completou: “Vamos votar no ladrão, pelo menos é de nossa comunidade!”.
Não creio que tenha sido assim em muitos outros municípios. No entanto, pelo simples fato de em algumas comunidades o sentimento popular em relação ao processo eleitoral tenha sido esse, já é de se lamentar. Pena não terem a oportunidade de escolher o prefeito e os vereadores pelo trabalho prestado junto à comunidade. Uma verdadeira lástima.

11/10/2012

Vencedores e vencidos

Em todo o país, grupos se uniram para a manutenção ou a busca pelo poder. Arregimentaram forças, recursos financeiros, argumentos e planos. Os boatos se misturaram aos fatos. Atacaram e rebateram. Forças antagônicas na mesma mesa. Acertos naturais ou estapafúrdios. Vasculharam papéis na busca das provas, buscaram aqui e ali algum indício incriminador. Os corvos buscaram socializar o podre. Em todos os cantos, a história ousa se repetir.
Uma providencial pesquisa, que beneficia o candidato patrocinador, faz parte do contexto. Inevitavelmente o estudo mostra a todos o pagante em primeiro, secundado pelo adversário. Uma diferença abissal entre eles. A única certeza é de que alguém está errado. 
No pleito de domingo, no entanto, os pesquisadores – pelo menos neste pedaço de chão -, enganaram a todos. A larga vantagem de votos para o candidato A ou para o B, como apontavam os levantamentos por eles pagos, não apareceu. Os números, fartamente divulgados nas redes sociais, foram muito diversos daqueles apresentados nas urnas.

03/10/2012

As horas derradeiras


Imagino o sentimento dos candidatos nestas horas que antecedem as eleições. Cansados da exaustiva movimentação do período eleitoral quando cruzaram o Município inúmeras vezes visando o convencimento dos eleitores, empregam agora seus últimos e derradeiros esforços. Entusiasmo, apreensão, pessimismo, certeza e incerteza revezando-se ininterruptamente.
Talvez seja difícil aos candidatos deitar a cabeça no travesseiro e conquistar alguns momentos de tranquilidade, nestes dias que antecedem o pleito. Acredito que muitos candidatos enquanto buscam o sono reparador, maquinalmente continuam distribuindo seus santinhos e apresentando seus planos. O espírito acossado pela pressão continua vigilante, trabalhando pela causa que o preocupa. Não se permite o ócio e o prazer do relaxamento.