22/09/2018

Campo Minado

Nas zonas de conflito enterram-se minas para atingir o inimigo. O passo seguinte pode ser o passo final do guerreiro. Pisar numa mina ativa é abrir caminho para o fim. É morte na certa. Quase certa: se houver um destes milagres o corpo estará dilacerado. Nada será como antes. O que sobrar será sempre uma parte. O todo ficou na explosão da mina.
O processo eleitoral que está em andamento por aqui é quase como um campo minado. Uma guerra. Cada passo pode conduzir ao fim. Os mortos vão ficando pelo caminho. Estilhaços de minas detonadas vão ferindo as carnes. Às vezes, o campo fede. Há sinais claros de decomposição pelo caminho.

Haverá um dia em que isto tudo será passado. A história será contada de um jeito ou de outro. Versões para todos os gostos, com mais sal ou mais açúcar; conforme o gosto do freguês. Porém, longo será o trabalho de desarmar as minas. Elas, enterradas durante a batalha, farão muitas vítimas ainda. Mesmo depois que os guerreiros saírem de cena por falência ou morte, sua obra-prima será vista e lembrada por muito tempo. Gerações e gerações contarão causos imaginários, fantasiosos ou até carregados com alguma ponta de verdade sobre estes tempos de guerra.

Sobe e desce

Estas pesquisas eleitorais são mesmo uma graça. Enquanto cristalizam alguns números flutuam outros. Olhando assim esses gráficos formados por linhas coloridas que sobem lentamente ou caminham horizontalmente sem qualquer alteração, tem-se a impressão de que tudo está garantido. Que o ganhador já ganhou e que o perdedor já perdeu. Nada disso: poderemos ter um ganhador ali na frente e muitos perdedores ao longo dos tempos. Pode ser que o ganhador festeje com seu séquito até se acabar e, logo ali na frente veja a derrota no fim do túnel. São dois turnos. A vitória de agora bem pode ser a derrota que vem a galope.
O cenário é bem estranho. Creio que no final de tudo não restará grande coisa a comemorar. O cenário político brasileiro é pródigo em histórias de vitórias que se esvaem já na comemoração: esperanças que duraram bem menos do que se esperava como Tancredo e Collor.
A novela da sucessão parece uma peça de ficção. O futuro parece cabuloso. O rio parece intransponível. Só parece. Ninguém tem certeza. Nem os números do Ibope que torcem nervosamente para este ou aquele.
Talvez o trabalho maior de quem chegar na frente será desarmar as minas que foram cuidadosamente enterradas nos últimos anos Brasil afora. Muitas delas já explodiram nos corredores de hospitais sem vaga para o SUS, na escola sem recurso, no funcionalismo sem correção, na violência que faz vítimas inocentes, no ódio que sangra na rua e nas redes sociais. Haverá muito o que fazer. Se o timoneiro for um embuste, jogará para a torcida como tantos jogam nestas propagandas eleitorais que prometem mais educação, mais saúde e segurança.
No fim, há que restar alguma esperança. Vai que o eleito seja tudo o que diz. Sabe-se lá o que vem por aí! Este Brasil, lindo e trigueiro, faz graça todo o dia. Vai que se tenha motivo para rir logo ali. Tomara!

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