22/09/2018

Cacareco, Macaco Tião, Mosquito e Asno

Houve um tempo em que o voto era em papel. Chamava-se cédula eleitoral. O eleitor chegava na sua seção eleitoral, identificava-se com o seu título e recebia do mesário um papel impresso. Não havia essas urnas eletrônicas. Assim, ao invés de digitar um número o eleitor escrevia o número do candidato ou seu nome ou, ainda, somente o partido político. Como o analfabetismo era imenso, alguns votos viravam motivo de gargalhada. Nas cidades pequenas, então, um voto poderia fazer a diferença e a luta era ferrenha para validar um voto duvidoso.
Um dos aspectos mais curiosos nesses pleitos foi o lançamento de candidaturas alternativas. Assim, animais, personagens de filmes e novelas recebiam votos de eleitores irresponsáveis ou gozadores.
A tentativa mais consagradora foi do rinoceronte Cacareco. Corria o ano da graça de 1959. Já naquele tempo, imperava o sentimento de desgosto e de decepção em relação ao panorama político. Um jornalista, Itaboraí Martins, do Estado de São Paulo, numa bem humorada iniciativa, lançou Cacareco como candidato a vereador. Imprimiu milhares de panfletos e distribuiu na capital paulista. O animal conseguiu a impressionante marca de 100 mil votos. A performance de Cacareco foi tema da conceituada revista Time, dos EUA, que destacou a manifestação de um eleitor:"É melhor eleger um rinoceronte do que um asno”.

Outra iniciativa digna de registro foi no final dos anos 80. O grupo Casseta e Planeta lançou como candidato a prefeito do Rio o Macaco Tião. O símio, que nada tinha de simpático, recebeu nada menos do que 400 mil votos, chegando em quarto lugar naquela eleição.
Também no final dos anos 80, Vila Velha, no Espírito Santo, viveu situação parecida ao Rio e São Paulo. Nem macaco e nem rinoceronte foram as estrelas das eleições municipais: mas, o mosquito. Ocorre que a cidade sofria com uma invasão de Aedes Aegypti, o mosquito da dengue. Os eleitores, insatisfeitos com a falta de ação dos governantes, elegeram o mosquito como prefeito da cidade. Claro, a Justiça Eleitoral não considerou os votos válidos e proclamou o segundo colocado como prefeito. Uma das primeiras ações do prefeito eleito, Magno Pires da Silva, foi realizar campanhas ferrenhas para derrotar o inimigo. Ao que consta foi bem sucedido.
Hoje estas zoações não são mais possíveis. A urna eletrônica elimina estes processos criativos. Mas, o eleitor brasileiro se assim desejar poderá “protestar” irresponsavelmente: poderá até votar num asno. E, dessa vez, nem a justiça poderá fazer coisa diferente do que entregar a faixa e assistir o espetáculo circense.

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