24/11/2011

Incômodo natalino

Arte sobre foto
O mês de novembro se encaminha para o final. Na tevê a figura do Papai Noel já dá o ar de graça. Em Gramado, há algumas semanas, foi dada a largada para mais um período natalino. Pesados, com suas roupas vermelhas e suas barbas brancas postiças, centenas de bons velhinhos protagonizaram a tradicional corrida anual. Lance de marketing para promover o Natal Luz daquela cidade.
A graça e a beleza do clima de Natal, no entanto, não são percebidos por todos. Há pessoas, entre elas alguns amigos, que manifestam sentimentos divergentes neste período pré-natalino. Tédio, pavor, irritação, desconforto são alguns referidos. Talvez contribua decisivamente para esta contrariedade o hábito, nem sempre salutar, de divulgar canções típicas a todo volume pelos estabelecimentos comerciais. Se a intenção é bombar as vendas, às vezes a estratégia se revela um verdadeiro tiro no pé.

16/11/2011

Sonhos frustrados

Meninos jogando futebol - Alfredo Volpi
Talvez não contasse ainda com uma dezena de anos. Não tinha ido a nenhum jogo de futebol, a nenhum estádio lotado. Na realidade, meu contato com o esporte se dava pelas ondas do rádio. Tevê era coisa de outro mundo para nós. Um objeto raro na vizinhança. Os poucos aparelhos existentes transmitiam uma imagem pródiga em interferências, com sombras, fantasmas, ruído, chiado, pouca, muito pouca, visibilidade. Em alguns momentos era necessário adivinhar o que se passava na ampla tela, em preto e branco.
A gurizada corria para lá e para cá, atrás de uma bola, subindo em cinamomos para colher os frutinhos que, depois, seriam arremessados de bodoque. Os furtos de goiabas, bergamotas e laranjas, muitas vezes ainda verdes, eram tolerados e até incentivados pela vizinhança que não via mal qualquer naqueles pequenos seres. O tempo corria numa preguiça só. Os dias de Primavera e Verão, então, eram longos. Cansávamos de tanto brincar. Não havia preocupação com violência. Droga não havia por ali. Talvez um ou outro pai na vila abusasse da cachaça, do conhaque, do bíter. Porém, bebida alcoólica não era droga. Ou, pelo menos, naquele tempo ninguém dizia isso. A violência que casualmente nascia do consumo excessivo de álcool ficava circunscrita ao âmbito familiar. O sofrimento era velado, sem escândalo, sem grandes comentários.

09/11/2011

O súbito desaparecimento

Vultos estranhos em suas
danças surrealistas

Sem que notasse, ele sumiu. Procurei daqui, procurei dali e nada. Puxei pela memória, refiz os trajetos, nada. Coloquei a família toda a procurar. Minha sogra fez promessas para São Longuinho, para São João e para todos os santos possíveis e nenhum sinal. Diante da negativa dos poderosos, novamente coloquei a família toda a procurar. Aos pequenos cheguei a prometer um incentivo, um prêmio, um agrado que pudesse aumentar a produtividade, aumentando assim o interesse na tarefa.  Que, nada! As investidas foram infrutíferas, um verdadeiro fracasso. 
Como tudo na vida serve para desencadear e aguçar a nossa percepção e o nosso conhecimento, cheguei a pensar na existência de alguma Lei da Física que relatasse o desaparecimento súbito de objetos. A mais pura bobagem é claro! Nem no Google nem em qualquer enciclopédia encontraria tal tratado científico.
O certo é que, de uma hora para outra, me tornei um órfão da minha visão. Os óculos sumiram, deixando-me com cara de Mr. Magoo. Sorte que contava com providenciais lentes de contato que usava muito pouco. Sempre na esperança de encontrar o danado dos óculos, segui usando, com certo desconforto, as lentes até o final de semana.

03/11/2011

O canto dos pássaros

Dia desses uma colunista de destaque na mídia regional, escritora conceituada e guru das mulheres de todas as tribos, ousou nadar contra a correnteza e desconstituiu uma das clássicas imagens de beleza que a natureza nos oferece. Disse que estava cansada do assédio dos pássaros que diariamente, às 06 da manhã em ponto, insistentemente protagonizavam um barulho ensurdecedor em árvore próxima à sua janela.
Nas redes sociais levou centenas ou milhares de chineladas. Gente que, democraticamente, criticou o ímpeto da articulista. Alguns mais exaltados chegaram mesmo a qualificá-la de insensível, problemática e outras coisas ainda mais pesadas. Sem contar com uma procuração fiz a sua defesa (como se ela precisasse disso). Na oportunidade lembrei que os cronistas, em regra, estão comprometidos com a sua verdade, expressando suas ideias sem censura. Fiéis às suas convicções, mesmo que momentâneas, vez por outra não agradam aqui e acolá. Além disso, o cronista não está escondido. No alto da página encontra-se seu nome e, muitas vezes, seu endereço eletrônico.