30/10/2013

Café filosófico

Deu no jornal: o hábito de tomar um cafezinho influencia decisivamente na tomada de decisão. Um bom número de pessoas muda de posicionamento após a ingestão de um simplório café. Explicam os estudiosos que o apreciado líquido tem o poder de tornar as pessoas mais maleáveis, podendo, assim, analisar com mais vagar as hipóteses e, por consequência, mudar um posicionamento anterior. Talvez seja por isso que o café seja tão respeitado e consumido entre os nossos políticos.
Intuitivamente, é claro, todos bem sabem disso. È dispensável até a  realização de  uma pesquisa científica. No mundo corporativo é muito comum o investimento no café. Nas empresas, independentemente do seu porte, é o momento em que o trabalhador deixa seu posto, se afasta um pouco de suas tarefas e dá uma relaxada. Sem, com isso, causar prejuízo aos cofres do patrão. O indivíduo, depois deste pequeno entretenimento, volta com as pilhas carregadas, trabalhando com mais disposição e gerando maiores lucros para a chefia. Em ambientes mais descolados é bem normal que a ala de cima também saia de seu casulo, compartilhando deste momento com a peonada. É hora de se entregar ao prazer da conversa jogada fora, da piadinha rápida ou daquele assunto corriqueiro que não cabe no horário do expediente. Tudo isso sem culpa.

22/10/2013

Nada mais do que palavras

Há certas obviedades que escapam à percepção. De tão claras, tornam-se invisíveis aos olhos mais desatentos. De tão frequentes, corriqueiras, usuais, parecem sofrer uma estranha mutação. Fingem-se de invisíveis. Quietinhas permanecem escondidas por um fino tecido, quase transparente. Estão ali, mas não são vistas.
A importância da palavra talvez seja uma destas obviedades. Logo ela, a palavra, que nos cerca diariamente. Exagerando, poderíamos dizer que as palavras movem o mundo. São ditas, escritas, cantadas, recitadas e lidas. As palavras estão em todos os lugares. Para elas não há vácuo. As palavras estão ali, espreitando. Ficam em repouso, aguardando o momento para atuar.

16/10/2013

Uma página em branco

Uma página em branco é um desafio. É um desafio para o desenhista que olha aquela imensidão e lança traços imaginários, construindo figuras aos poucos. Sombreando aqui e iluminando ali, o branco vai sumindo. Paisagens, rostos, objetos vão povoando aquele espaço antes tão límpido, tão estéril. Porém, neste processo de criação, nem sempre as porções de tinta lançadas no papel satisfazem os olhos exigentes do autor. Algumas folhas, reprovadas pelo controle de qualidade do ilustrador, morrem amassadas ao lado da mesa.
Uma folha em branco é um desafio para o acadêmico que encara, enfim, o seu trabalho de conclusão. Às vezes, aquela estrutura pálida e frágil agride o olhar cansado do estudante. O período é de nervosismo. Alguns colegas, no entanto, mais falam é da formatura, da festa, do formato do convite e do buffet. Outros brigam obstinadamente para definir quem será o orador, o juramentista, o paraninfo e o professor homenageado. Uns brigam por tudo. Encrencam com o formato das fotos, com a contratação da empresa que fará a filmagem e a decoração. Porém, é certo que nas madrugadas uns que outros despertam depois de um torturante pesadelo. Acordam apavorados depois de perderem a voz diante da cruel banca examinadora.

09/10/2013

Os ditados populares

Água mole em pedra dura...
Não se sabe ao certo quando nem onde surgem os ditados populares. O que se sabe é que mais dia menos dia alguém vai lançar mão de algum conhecimento que vem sendo repetido desde “os tempos do epa”. É comum pensar nesses chavões como  fórmulas repetidas à exaustão, muitas vezes de gosto duvidoso, que se destinam tão somente para ilustrar os bate-papos das pessoas humildes, desprovidas de vocabulário, de traquejo no trato da língua. No entanto, cá entre nós, apesar de singelas, há algumas destas expressões que são impagáveis. Mesmo que o indivíduo cultive todos os cuidados para evitar que seu discurso não pareça assim tão simples, tão desprovido de requinte, vez por outra os ditados populares escapam da memória coletiva e se intrometem como algo definitivo, insuperável e inevitável.
Agora mesmo, diante das repetidas manchetes do empobrecimento do maior empresário brasileiro dos últimos tempos, não há como não lembrar dos nossos irmãos portugueses que, diante de uma situação semelhante repetem que  “quanto mais alta a berlinda, maior é o trambolhão”, ou, traduzindo para o Português do Brasil, “quanto mais alto fores, maior o tombo”.

01/10/2013

A mania das frases

 Uma mania das mais comuns nos dias de hoje está na difusão de frases e pensamentos nas redes sociais. A garotada e os marmanjos de toda ordem adoram abrir o dia com uma daquelas sentenças que diz tudo ou quase tudo. A escolha, por certo, é motivada pelo estado de espírito do pessoal. Se o momento é de felicidade, dê-lhe frases de exaltação à vida. Se, por outro lado, os dias são mais sombrios, as sentenças caminham neste sentido. Já se a rodada da semana não foi muito feliz para o time, recuo estratégico. Leve sumiço. Culpa da conexão que é lenta. Se o time voltar a vencer... Bem aí o sinal recupera sua força e os sumidos voltam a viver e a gozar da alegria momentânea e das ilusões que o esporte bretão reserva a cada um dos apreciadores.