29/09/2010

As eleições

A realização de eleições nas terras brasileiras é um costume muito antigo. Fazia parte da cultura portuguesa a escolha de governantes das vilas e cidades recém fundadas através do voto direto. A primeira eleição que se tem notícia foi em 1532, quando foram escolhidos os membros do Conselho Municipal da Vila de São Vicente, em São Paulo.
Apesar da predileção por pleitos locais, somente no século XIX é que ocorreu a primeira eleição geral no país. O processo de escolha de representantes do país na Corte de Lisboa durou meses e, devido aos problemas, muitos estados não conseguiram concluir a eleição.

27/09/2010

Um ano sem Mercedes Sosa



Faz um ano que a cantora Mercedes Sosa nos deixou. Foi em 04 de outubro de 2009 que ela partiu. Naquela semana, no Jornal Bons Ventos, publicamos crônica sobre La Negra.


Voz que silencia

Uma grande voz se calou. La Negra, mescla de indígenas e franceses, embalou os sonhos libertários de uma América Latina sitiada pelo coturno e pela baioneta. Foi uma das vozes que se ergueram enquanto o tempo fechava sobre brasileiros, uruguaios, argentinos, chilenos e paraguaios, submetidos a bater continência a gente do naipe de Alfredo Strossner, Juan Maria Bordaberry, Augusto Pinochet e Jorge Videla, que tinham como prática comum fechar a boca dos discordantes. Aos oponentes, ferro e fogo, tortura e morte. Gente sumindo, desaparecendo, deixando mães aflitas chorando na Praça de Maio, expondo fotografias de seus jovens filhos, líderes estudantis, guerrilheiros infantis, comunas e socialistas sonhadores, ou, ainda, gente comum que se viu no front, por acaso, sem saber muito bem onde estavam e o que queriam. Ousaram desafiar irresponsavelmente os defensores da pátria.

22/09/2010

Tiririca e os bobos da corte

O palhaço é uma figura antiga. Acredita-se que sua origem tenha ocorrido há 2500 anos antes de Cristo. Naqueles tempos um artista popular era mantido na corte para entreter o rei. Era conhecido como o Bobo da Corte. É clássica a imagem do soberano entediado mandando o bobo para o calabouço ou para a forca, após uma apresentação sem brilho. Assim, o pescoço do indivíduo dependia do humor do chefe do reino. Rindo o rei, seu pescoço estava a salvo. 
Da corte o bobo foi para o teatro popular. O personagem italiano divertido da Comedia Del Arte, no século XVI, com roupas coloridas, sapatilhas enormes e máscara nada mais é do que o velho bobo da corte customizado. Daí surgiu o palhaço que conhecemos. Todos ganharam com isso. O povo, que teve acesso ao direito de sorrir como um rei e o bobo, que garantiu a incolumidade do seu corpo, mesmo diante de uma atuação displicente.

A primavera de Dionísio

Eis que a primavera voltou. E já não era sem tempo. Frio, chuva, ciclone, e destruição foram alguns dos termos constantemente utilizados no inverno que castigou o Sul do Brasil. Casas destelhadas, veículos levados pela força das águas, desmoronamento de estradas, vidas ceifadas. As cenas, que à vezes parecem adstritas aos filmes americanos, foram, para muitos gaúchos, catarinenses, paranaenses e paulistas, parte da vida real. Lá se foi o inverno, rigoroso como nunca. 
A primavera que se inicia tem um significado de renascimento, de ressurgimento. Na mitologia grega, Dionísio, é o deus do vinho e da vegetação. Foi ele quem ensinou os homens o cultivo da videira e a transformação da uva em vinho. Inebriados pelo vinho, seus seguidores se excediam no culto, atingindo a êxtase em celebrações que terminavam em orgias. Entre os romanos era Baco.

15/09/2010

Felicidade butanesa

O Butão é um pequeno e pobre país, prensado entre a China e a Índia. Tem pouco mais de 650 mil habitantes, seu sistema de governo é a monarquia constitucional. É, também, conhecido como o Reino da Felicidade, a última Shangrilá. Segundo dizem, não há casos de fome, analfabetismo, corrupção e mendicância.
O curioso na administração butanesa é a substituição do PIB – Produto Interno Bruto por outro índice: o FIB – Felicidade Interna Bruta. Felicidade, como se vê, é levada a sério no Butão. É preocupação governamental. Tanto que cabe ao Estado desenvolver políticas públicas que dêem condições aos cidadãos se concentrarem na busca da felicidade, através dos ensinamentos do Budismo. São quatro os pilares básicos do Estado, preservação das tradições butanesas e do ambiente natural, crescimento econômico e bom governo.
Os orientais são sábios. Certamente imaginaram que de nada adianta o acúmulo de riquezas se o povo em si não é feliz. Mesmo que não se saiba se a iniciativa, implementada há décadas, tenha mudado alguma coisa no humor dos butaneses, a ideia é, no mínimo, uma valorização da luta humana por um bem que se coloca sempre longe do alcance das pessoas. Por aqui uma proposta destas seria ridicularizada. Não prosperaria!
Para as estatísticas, gente, pessoa, povo é número. Indivíduo é consumidor, cliente. Funcionário é colaborador. Os eufemismos despersonalizam o ser. Tornamos-nos índices. Sem nome. Quem quer saber de nossas emoções? Se somos felizes ou não? O mercado, certamente não!
A palavra felicidade só aparece no meio dos rápidos pronunciamentos dos candidatos, nesta época de campanha eletrônica. Daí não sairá. Ficará restrita à promessa. Não seguirá carreira, não será promovida a integrante de projeto governamental. Uma pena, mesmo!


Atualizado em 23.03.2012
Fico feliz em ver que o exemplo dos orientais está fazendo escola. A preocupação em medir o grau de felicidade do povo parece que será também uma realidade no Brasil. Tomara que isto realmente saia do papel e seja um instrumento sério e não mais uma propaganda dos governantes.

Veja a notícia na íntegra:
Estadão





13/09/2010

Sentimento pátrio

El gaucho cantor, Leon Pallière*
O Rio Grande é uma pátria. Constitucionalmente não pode, moralmente não deve e na prática nem precisa buscar qualquer separação do Brasil. O Rio Grande é sui generis.  Possui uma história rica, um povo nem tão rico assim e uma cultura peculiar. É dos estados brasileiros talvez aquele onde o sentimento pátrio seja mais presente. 
A história gaúcha contada a partir das ações espetaculosas é verdadeira epopeia. Daquelas tão ao gosto dos historiadores antigos, com atos de bravura, de doação, de sangue e sacrifícios. O homem e seu cavalo, como um só ser, livres, marchando em direção ao perigo, enfrentando tormentas, desbravando os confins, enfrentando inimigos, por vezes os espetando mortalmente com suas lanças.

11/09/2010

O gosto pela polêmica

Em qualquer grupamento humano sempre tem alguém que é caracterizado como “O Polêmico”.  Às vezes, quando tudo parece estar certinho, combinado, resolvido, sem grande contrariedade, aparece O Polêmico. Quem é este personagem, tão conhecido de todos nós e, ao mesmo tempo, tão desconhecido, carente de estudos, de teses e, também, de compreensão. 
Sabemos muito bem o que é uma polêmica. É uma situação de contrariedade, de controvérsia, uma disputa acalorada, mas sempre num tom cordato, não violento. O Polêmico, por sua vez, é um ser que busca a defesa intransigente de suas posições, mesmo quando está em aparente desvantagem. Tem uma característica toda peculiar: não escolhe campo de batalha. Basta que surja a oportunidade e lá está O Polêmico, dando o ar da sua presença. Às vezes O Polêmico consegue engrossar seu time, cooptando os menos convictos.

Ilusão de ótica


As pessoas possuem uma visão particular das coisas.  Um jogo de futebol, assistido por 50 mil pessoas, poderá contar até com 50 mil interpretações diferentes. Assim, uma só realidade pode dar origem a uma infinidade de interpretações. As experiências de cada um, a expectativa do resultado, o engajamento do torcedor, a sua emoção no momento são fatores que podem influenciar na conclusão sobre os fatos que se desenrolam no campo de jogo. 
Eu mesmo já assisti a um jogo de final de Brasileirão na torcida adversária. Ali, menti descaradamente. Era uma questão de sobrevivência. Quando meu time atacava, era só silêncio. Quando o adversário pegava a bola todos a meu lado se levantavam. Eu, claro, levantava junto. Fazia de conta que sofria. Segurei o grito de gol na garganta. Vaiei, sem muito ânimo. Vibrei, sem entusiasmo. Felizmente o jogo terminou empatado. Somente pude ser verdadeiro bem longe do estádio.

08/09/2010

O choro


Homem não chora, dizia nossa mãe. No alto dos nossos cinco, seis, dez anos, não entendíamos o significado disso. Por certo, boa parte dos homens que aí estão afogou a dor, matou-a no peito, segurou a lágrima para não contrariar a sabedoria materna.  E, quem sabe, se comportam assim até hoje.
Raimundo Fagner, compositor cearense, com sua voz estridente, diz exatamente o contrário quando analisa o homem diante de uma das situações mais aflitivas pela qual eventualmente pode passar: o desemprego. Na canção Guerreiro Menino defende que  “um homem também chora, menina, morena, também deseja colo, palavras amenas, precisa de carinho, precisa de ternura, precisa de um abraço da própria candura”.
O choro é a manifestação mais infantil do homem. Ele reduz o homem feito, a mulher dona de si, àquela criança assustada diante do medo e da dor. Talvez por isso, especialmente os homens, tenham dificuldade em extravasar seus sentimentos e contenham a lágrima diante do sofrimento. Admitiria aí sua fraqueza. E fraco ninguém quer ser.

02/09/2010

Pátria Amada

O mês de setembro é o mês da Pátria. Repetimos isso, participamos das comemorações, exaltamos, homenageamos. No entanto, não nos permitimos pensar a respeito do que é esta Pátria Amada, qual a origem deste sentimento pátrio, o seu significado e sua validade. Nós, gaúchos, então, temos dobradas comemorações, eis que aqui se nutre um sentimento duplamente patriótico pelo culto ao Brasil e, em especial, pelo Rio Grande.
Entre os povos antigos, a pátria significava a terra dos pais. Entendia-se que a pátria de cada homem era a porção de terra ocupada pelos ossos dos antepassados, onde, acreditava-se jazia também uma alma. Este solo era sagrado, tanto que lhe rendiam homenagens, com o acendimento de um fogo que jamais poderia ser negligenciado sob pena de revolta dos espíritos esquecidos, que movidos por vingança causariam  alguns estragos, como desgraças familiares, quebra de safras agrícolas e mortes de animais, entre outros.