29/09/2010

As eleições

A realização de eleições nas terras brasileiras é um costume muito antigo. Fazia parte da cultura portuguesa a escolha de governantes das vilas e cidades recém fundadas através do voto direto. A primeira eleição que se tem notícia foi em 1532, quando foram escolhidos os membros do Conselho Municipal da Vila de São Vicente, em São Paulo.
Apesar da predileção por pleitos locais, somente no século XIX é que ocorreu a primeira eleição geral no país. O processo de escolha de representantes do país na Corte de Lisboa durou meses e, devido aos problemas, muitos estados não conseguiram concluir a eleição.
Houve um tempo que os eleitores não escolhiam os candidatos diretamente. O sistema, chamado de quatro graus, era muito complicado. Os cidadãos escolhiam outros eleitores para representá-los. Os chamados compromissários elegiam outro grupo de eleitores, os da paróquia que, por sua vez, escolhiam os da comarca. Estes é que elegiam os deputados. Alguma dúvida de que este sistema era português?
No princípio o direito ao voto era de todos. Com o tempo foram impostas restrições aos escravos, mulheres e pobres. 
Os primeiros processos eleitorais na República eram casuísticos. O voto era aberto e o eleitor era constrangido a escolher o candidato do coronel local. Invariavelmente era eleito o candidato do governador. Se isso não ocorresse eram providenciadas fraudes ou alguma intervenção na Comarca.
Os processos eleitorais foram os responsáveis pelo surgimento de estratégias ardilmente arquitetadas para garantir a manutenção do poder. E nisso os militares foram experts. Atos Institucionais, fechamento do Congresso, cassação de mandatos, bipartidarismo, eleições indiretas, senadores biônicos, instituição de áreas de segurança e uma série interminável de artimanhas tornaram as eleições dos anos 60, 70 e início dos anos 80 em uma radical luta de vida e morte.
Ali o voto ganhou em glamour. Direita e esquerda estavam postos um de frente para o outro. Um destes grupos, no entanto, tinha o apoio de baionetas, canhões e urutus. Convenhamos, argumentos mais do que fortes, naqueles tempos escuros, onde imperava o medo. As eleições, tal qual a comandada pelos coronéis, eram de cartas marcadas.
O início dos anos 80 foi marcante. A ditadura ainda estava instalada, mas as rédeas já estavam afrouxando. O país se dava conta de que o milagre prometido pelos governos militares não se realizaria. Votar era mais do que um desejo, era um sonho. Através do voto, as transformações ocorreriam como num passe de mágica. 
De uns anos para cá, votar tornou-se um hábito comum. As campanhas eleitorais para eleição dos grandes mandatários da nação deixaram as ruas e se alojaram na televisão. Nos grandes centros ainda ocorrem comícios. O objetivo, no entanto, não é convencer o eleitor. Agora o que se quer é gerar um espetáculo televisivo para o programa eleitoral do dia seguinte.
Em nossa cidade, a feira livre tem sido o ponto de difusão das candidaturas. Nos próximos dias a feira voltará ao que sempre é. Sem as bandeiras, sem o burburinho, sem os tapinhas nas costas, sem os santinhos. Alguns talvez mantenham o hábito de passar por ali. Outros retornarão na próxima eleição. 
Votar é sempre importante. É um sinal de liberdade. Escolher o candidato é coisa séria. Se vai se eleger ou não é outra questão. O que vale é a vontade do eleitor. E esta vontade não está condicionada à preferência dos coronéis. Pobres, ricos, remediados, homens, mulheres, jovens e velhos, na frente da urna todos são iguais. A eleição é um dos únicos momentos onde as condições pessoais desaparecem. Ali, na intimidade do nosso voto, somos todos o Senhor Eleitor. 
Um bom voto a todos!

Nenhum comentário:

Postar um comentário