29/11/2016

Vida e Morte

As palavras estão aí e precisam ser encontradas. Não cabe ao cronista escrever algo no estilo “não tenho palavras para explicar” ou “não encontrei as palavras”. A coluna do jornal precisa ser preenchida. Não há como deixar um espaço em branco. Tem que haver algo publicado ali. De preferência com letras, com palavras e com ideias que, de algum modo, façam sentido aos leitores. Então, é necessário, é indispensável, é um imperativo que se escarafunche  e que algo seja dito.
Explico: é terça-feira. Uma terça-feira diferente. O sol sai de vez em quando. Mas, nuvens insistentes cobrem boa parte do dia. Os sites, os jornais, a tevê, as rádios, as redes sociais. Todos. Todos estão conectados com a queda do avião da delegação da Chapecoense. Vidas se foram. Familiares são entrevistados insistentemente. As pessoas querem explicações. O que houve com o avião? Houve falha humana? O desastre poderia ser evitado? O clube poderia ter gasto mais algum recurso e conseguido uma aeronave melhor?

24/11/2016

Copiar e Colar

Recebo cada link, cada postagem, vejo cada publicação nas redes que vou te dizer. Absurdos homéricos são divulgados como se fossem informações corretas. “Vamos acabar com o auxílio-reclusão. Cada preso ganha 1.200,00 por mês enquanto o salário mínimo que a população recebe é só R$ 880,00”. Tenho recebi coisas deste tipo de virtuais amigos que cursaram ensino superior, de empresários razoavelmente bem estabelecidos e de gente deste quilate.

22/11/2016

A Pressa

A pressa é uma marca dos tempos atuais. Tudo é na hora. Não há espaço para depois. Parece que todo o mundo está com a mãe na forca, como diriam os mais antigos. A comunicação instantânea talvez tenha contribuído para isso. As respostas têm que, obrigatoriamente, serem dadas logo após o sinalzinho duplo e azulado aparecer na tela. Minutos são horas. E horas é a própria eternidade.
Com a democratização da opinião, através das redes virtuais, criou-se outro mal, tão prejudicial quanto a pressa: a necessidade de reagir. Parece que é uma obrigação que todos tenham uma opinião formada sobre tudo, “sobre o que é o amor, sobre o que eu nem sei quem sou”. Quem não opina tá por fora. E quem opina, quem toma partido, quem se apaixona pela tese é bem capaz de servir de cristão aos leões. E os felinos têm uma carência invejável. A fome é grande. Polêmica, polêmica, polêmica. Por pouco, pisa-se no pescoço e quebram-se os ossos. Um pouco de exagero, é claro.

10/11/2016

Sem Reclamações

O célebre reclamão Garfield,
 de Jim Davis
Um dia sem reclamação. Só um. Nada de lamentar o tempo quente e abafado, a falta de vento, o preço assustador do litro de gasolina, o excesso de trabalho ou a falta dele, a grana curta no bolso ou o saldo negativo no banco. O negócio que era para fechar e não fechou. A pouca valorização que o vendedor deu pelo carro usado e a supervalorização atribuída por outro um pouquinho só mais novo.
Um dia sem reclamação. Só um. A falta de vitória do time do coração. O desempenho trôpego de quem representou para ti uma grande esperança. A gordurinha que  sobra do lado, o cabelo que não se ajeita p ou que abandona a cabeça e não volta mais. Uma ruga, disfarçada de  sinal de expressão, que denota que o tempo vai marcando sua marcha pelos rostos dos viventes.  O livro que dorme infinitamente do lado da cama. A grama que cresce neste tempo e exige algum suor ou algum dinheiro para pagar o rapaz que corta, apara, recolhe e pede, de vez em quando, uma água gelada, “porque sem água gelada não dá para enfrentar este calorão”.

O Perdão

O ato de perdoar é coisa de religioso. É fora de moda. É coisa de outros tempos. É, talvez, até meio babaca. Coisa de gente fraca que abaixa a cabeça para tudo e para todos e que não se valoriza. Os tempos são outros. É hora de fazer valer o poder individual. Exercitar sua vontade. Cada um no seu quadrado. Pisão no pé se paga com pisão no pé. Dedo no olho com dedo no olho. Simples assim. Direto e reto, sem escalas.
O escritor Moacir Costa de Araújo Lima, físico, professor e conferencista, que lançou no ano passado a obra Perdão e crônicas para uma vida plena, acredita que perdoar é uma necessidade urgente para que os homens garantam uma boa saúde e uma vida mais promissora do que se leva aqui na Terra. Ele, que abriu a Semana Espírita da Sociedade Espírita Amor e Caridade, chega a dizer que as leis da Física mostram uma realidade imodificável que não é condizente com o conhecimento necessário para que a espécie humana evolua. 
Assim, em algum momento, é necessário que o próprio indivíduo assuma seu processo existencial e desprograme sua mente dos pensamentos que limitam a criatividade e a possibilidade de crescimento. Citou os conceitos da religião antiga que apresentava o Criador como um deus vingativo, mal humorado e muito pouco compreensivo. Além do pecado original e da culpa, dois outros pensamentos muito valorizados na cultura judaico-cristã e que acompanham as gerações há muito tempo.