26/01/2012

A camisa do Fernandinho

Eu e a camisa do Ferrnandinho
Quem está na moda não se incomoda. É o que diziam os antigos. E, de certo modo, estão cobertos de razão. A moda é a uniformidade, é a unificação. Todos os seres agrupados, sem distinção. Tribos marchando no mesmo passo. Azar dos outros que estão transitando na contramão.
Senti na pele, dia desses, os efeitos da ditadura da moda. Estava me preparando para a formatura do jovem Renan Marculan. A noite prometia um calor daqueles. Iria trabalhar. Com antecedência preparei o repertório para garantir a festa dos convidados. Som equalizado com antecedência, equipamento pronto, tudo certinho. Faltava a camisa. Sai pelas lojas da cidade em busca da vestimenta mais adequada. Não poderia ser pólo porque é informal demais, mesmo para um DJ tardio. Também não poderia ser excessivamente formal. Restava o quê, então?
Nas araras de todas as lojas que entrei descansavam ordenadamente uma imensidão de camisas, centenas delas, todas no mesmo estilo. Todas elas com estampa xadrez. Uma com quadrados largos, outras com quadrados menores. Algumas com o vermelho mais acentuado, outras com o branco e o preto em destaque. Verde e preto. Azul e preto. Lilás com preto e branco. Enfim, uma infinidade de variações, bem ao gosto do Agostinho Carraro. Em alguma destas lojas cheguei a brincar, lembrando que no meu tempo de guri (nos idos dos anos de 70 e 80 do século passado) os astros da música caipira Milionário e José Rico apareciam nas capas dos LPs com grandes violões coloridos e aquelas camisas quadriculadas. Exagero meu, é verdade!
A moda é assim mesmo. O que hoje é de mau gosto, amanhã é lindo. E assim segue reciclando gostos, impondo padrões de beleza, modificando o panorama de uma a outra estação. E a economia, com estes ciclos, vai se aquecendo. E o nosso guarda roupas vai ficando desatualizado, necessitando da aquisição permanente de novas joias saídas das cabeças iluminadas dos estilistas. Ou não! 
Certo é que, depois de uma boa caminhada (o que é muito positivo), encontrei quase que escondida entre dezenas de camisas xadrezes uma rara representante do grupo das discretas. Um desenho simples, estilo anos 80, um azulzinho que quase se confunde com o branco. Algo assim como uma Ellus, uma Gledson, uma Levis ou uma simples, porém competente US Top. É verdade que um xadrezinho, quase imperceptível. Daquelas que o Fernandinho ostentava na reunião da empresa, ganhando um elogio do chefe: “bonita camisa Fernandinho!”.
Pois bem, a festa foi muito legal. O calor foi enorme. Minha encantada camisa ficou encharcada. Tocamos a noite toda, até as cinco e pouco. Músicas para todos os gostos, todos os estilos, sem intervalo. Todas as modas juntas num caldeirão quente, borbulhante. Afinal, a música não pode parar.


Para quem não conheceu ou não lembra da publicidade das camisas da  US Top, dos anos 80, publicamos o vídeo do Youtube, abaixo.

  

18/01/2012

Som sem preconceito

Sou uma pessoa musical. Não tenho preconceito. Nasci ouvindo música. O Teixeirinha, o Gildo de Freitas, o José Mendes, o Pedro Raimundo, os trovadores do Grande Rodeio Coringa, da Rádio Farroupilha, foram parceiros de infância. Depois surgiram os sertanejos antigos, aquelas duplas mineiras, goianas e paulistas que cantavam o Brasil interiorano a plenos pulmões. Léo Canhoto e Robertinho, Pedro Bento e Zé da Estrada, Milionário e José Rico, sempre apresentados pelo talentoso Zé Bétio. Coisas de interiorano, de um Brasil com vocação rural.
Minha vocação, no entanto, revelou-se urbana. A enxada e a pá não fizeram calos na minha mão. Já no fim da infância surgiram outros nomes como Secos e  Molhados, Raul Seixas Rita Lee, Erasmo Carlos e Milton Nascimento. Conforme crescia, me aproximava um pouco das canções com conteúdo.  O ouvido foi gostando de Chico, Caetano, Elis e Gil foram parceiros de adolescência. Muita coisa não entendia. Meias palavras, metáforas, jogos de linguagem, expressões que pareciam dizer uma coisa, mas no fundo queriam dizer outra bem diferente. Eram os subterfúgios usados para fugir da censura e até da porrada dos defensores do regime do medo.

15/01/2012

Os otimistas e os pessimistas

Há diferenças marcantes entre pessimistas e otimistas. O sedento otimista encontra um copo com um restolho de água e bendiz a sorte. Os olhos do sedento pessimista, por sua vez, captam muito mais a imensidão vazia do objeto desprezando o valor que tem o pouco líquido que jaz no fundo. Enquanto o otimista vê no pouco uma boa razão para vibrar, o pessimista vê no muito que falta uma razão a mais para lamentar.
Nós, os humanos, somos por natureza bipolares. Convivemos diariamente entre o pessimismo e o otimismo. Na grande maioria esta bipolaridade não chega a causar danos. Não é uma disfunção. É um estado normal. Não é exagero considerar mesmo um estado ideal de quem vive alerta. Com os pés no chão. Somos aqueles que não enxergam tudo com cores vivas. Há, isto sim, aqueles dias mais cinzentos, mais escuros, em que a cor teima em sonegar a sua presença.