09/11/2011

O súbito desaparecimento

Vultos estranhos em suas
danças surrealistas

Sem que notasse, ele sumiu. Procurei daqui, procurei dali e nada. Puxei pela memória, refiz os trajetos, nada. Coloquei a família toda a procurar. Minha sogra fez promessas para São Longuinho, para São João e para todos os santos possíveis e nenhum sinal. Diante da negativa dos poderosos, novamente coloquei a família toda a procurar. Aos pequenos cheguei a prometer um incentivo, um prêmio, um agrado que pudesse aumentar a produtividade, aumentando assim o interesse na tarefa.  Que, nada! As investidas foram infrutíferas, um verdadeiro fracasso. 
Como tudo na vida serve para desencadear e aguçar a nossa percepção e o nosso conhecimento, cheguei a pensar na existência de alguma Lei da Física que relatasse o desaparecimento súbito de objetos. A mais pura bobagem é claro! Nem no Google nem em qualquer enciclopédia encontraria tal tratado científico.
O certo é que, de uma hora para outra, me tornei um órfão da minha visão. Os óculos sumiram, deixando-me com cara de Mr. Magoo. Sorte que contava com providenciais lentes de contato que usava muito pouco. Sempre na esperança de encontrar o danado dos óculos, segui usando, com certo desconforto, as lentes até o final de semana.
Aperto mesmo senti somente no sábado. Estávamos, eu e o Jerri Almeida, finalizando os preparativos para a 2ª Festface dos Amigos de Osório, no espaço Aloha, no GAO, quando notei uma redução drástica na visão. Em casa retirei as lentes, descansei  e me preparei para a noite. 
Já no começo da festa, ali pelas 23h, senti que minha visão realmente estava deficitária. Ao longe, na pista, notava somente alguns vultos estranhos se movendo entre luzes, numa dança surrealista. Às vezes estes vultos pareciam dar as mãos. Outras vezes faziam piruetas desajeitadamente, levantando as mãos para os céus como se agradecessem a alguma graça recebida. Não era só a visão a longa distância que se encontrava distorcida. O meu monitor, onde tinha o repertório para animar a festa, parecia tomado por estranhos hieróglifos. Os menores pareciam formiguinhas se deslocando preguiçosamente em uma procissão. 
Desgraça pouca é bobagem. De súbito, a lente do olho esquerdo parece ter sumido. Aí a situação piorou. Usando dos conhecimentos adquiridos ao assistir aos antigos filmes de piratas, improvisei com a mão esquerda um tapa olho, dando mais firmeza ao olho restante, o direito. Neste voo cego, tocamos a noite toda. E os vultos parecem ter gostado especialmente do reggae (Bob Marley é mesmo impagável), pois se refestelaram até altas horas.  
Já na segunda-feira, dia de consultar. Na clínica, a notícia de que a visão realmente vem declinando ao longo do tempo. As lentes terão que ser substituídas por outras mais potentes de tal forma a compensar o desgaste do organismo.  Nada que não possa ser remediado. Quando o amigo leitor estiver lendo esta crônica, talvez já esteja ostentando meus óculos novinhos em folha. O velhinho até poderá aparecer, como por vezes acontece quando não mais precisamos. Porém, será um adorno antigo, imprestável, vencido. Se não aparecer, porém, ficará como um intrigante enigma. Não haverá em algum lugar alguma Lei da Física sobre o desaparecimento súbito de objetos? 

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