12/01/2011

Ronaldinho e a ladainha

Ronaldinho (arte sobre foto)

Não faltava mais nada. Depois de exemplos explícitos de falta de ética e do uso de expedientes característicos de estelionatários, a novela Ronaldinho revela mais um viés lamentável. Diz-se que na sua apresentação no Flamengo, a entrevista coletiva será feita mediante a escolha prévia das perguntas encaminhadas antecipadamente pelos repórteres. Os sindicatos dos jornalistas vociferam. Censura era coisa do passado. Não se surpreenda com mais nada!


A ladainha da hora
Elaborar uma crônica semanal é um desafio. A vontade do cronista é sempre buscar o tema mais atual. A vontade é palpitar sobre o que está ocorrendo agora. Porém, as crônicas semanais não podem seguir a ladainha da hora. Cabe, isso sim, a questão mais ampla, que não vence neste exato momento. O desafio é propor um tema da atualidade que chegue ao leitor ainda dentro do prazo de validade. Se o assunto escolhido já encontrar-se superado, resolvido e defasado terá um destino inglório: será esnobado pelo leitor que, inteligentemente, passará os olhos sobre o primeiro parágrafo, abandonará a leitura e avançará para outras páginas.
Nos tempos atuais, as informações circulam com uma rapidez impressionante. A novidade de agora é velharia logo ali. Ninguém, nem o mais antenado dos internautas, consegue acompanhar a evolução dos fatos em razão da voracidade com que são postados. 
Restam alguns antídotos para superar o descompasso entre o tempo da escrita e o da publicação ou postagem. Alguns truques são corriqueiros. Escolher questões ligadas à Filosofia, às ciências, ao comportamento humano. São assuntos permanentes que não se esgotam. A evolução é lenta e gradual. Mesmo que ocorram mudanças, elas podem ser analisadas a partir de um olhar mais atento na busca de minúcias que, por um motivo qualquer, restaram veladas. O ser humano é sempre o grande assunto. Debruçar-se sobre este tema é gol na certa.
Alguns seres, no entanto, são escorregadios, imprevisíveis, debochadamente instáveis, dificultando até mesmo o entendimento sobre o gênero humano. Nas duas semanas que se passaram tivemos o maior exemplo de instabilidade negocial que se pode conceber. Todos estiveram voltados para uma turminha formada pelo Assis, Ronaldinho, Odone, Flamengo, Palmeiras, São Paulo e Milan. Alguns colunistas praticamente pararam de viver. Não sobrava tempo para o café nem pra pizza. Na mesa, paixões, ódios, sentimentos reprimidos, negociatas, traições, mentiras, falsidades e outros tantos elementos que não cabem nem mesmo numa novela inteira. O final foi alterado três ou quatro vezes, deixando perplexos dirigentes, jornalistas, torcedores e até mesmo quem não se ocupa de assuntos irrelevantes como os bastidores do futebol. 
O protagonista, um milionário mascate do rico mundo esportivo, vendeu sua mercadoria pelo melhor preço. Usou e abusou dos clubes e da imprensa. Encheu sites de notícias contraditórias. O ilusionista pregou uma grande peça. O Grêmio, embalado pela promessa de reconciliação, foi presa fácil. De repente viu-se o presidente Paulo Odone sentado a ver navios diante de enormes caixas de som judiando a grama do Olímpico. Imagino o tamanho de sua dor, de sua frustração. 
Passado o baque, volta-se à razão: o tricolor agia como o apaixonado que não é correspondido, entregava tudo por alguns momentos de aconchego. Demorou, mas Odone viu o desastre. Melhor recuar, admitir a traição, recolher-se, curtir a dor do desprezo, a gozação dos adversários e racionalizar. A vida continua. O espetáculo não pode parar.  O circo partiu. Amanhã tem mais um ato. Tristezas, alegrias, satisfações e dramas se seguem. Sem fim!  

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