20/05/2010

A viagem do som

O Rei, em recente espetáculo em Porto Alegre, comemorando seus 50 Anos de estrada, se surpreendeu ao usar uma expressão fora de moda. Falava ele sobre um disco que havia lançado, quando corrigiu: “Bicho, disco é uma palavra que não se usa mais. Hoje é cd, DVD, blu-ray”.
O que Roberto Carlos constatou, no meio de arranjos caprichados, é aquilo mesmo que nós sentimos, meio por acaso, por acidente. Ao longo do tempo as coisas que conhecemos vão ficando para trás e outras novas, de início desconhecidas, vão aparecendo. No princípio o processo parece lento, mas, de uma hora para outra, há uma substituição completa da tecnologia antiga por uma nova.
As palavras, que caracterizavam a tecnologia antiga, vão, aos poucos, se tornando obsoletas, caindo em desuso. Por outro lado, os indivíduos vão, também, aos poucos perdendo alguns referenciais e substituindo lentamente os hábitos por outros, sem se darem conta.
O caso mais emblemático de mudança de tecnologia ocorreu nos anos 80, com o surgimento do CD, compact-disc, que sepultou o disco de vinil, também conhecido como LP ou Long-Play. Em 1981 o chiado dos velhos discos foi sendo substituído pelo som limpo do cd. Os mais jovens talvez conheçam os vinis somente pelos restos de coleções de seus pais. Os velhos discos da Elis Regina, do Chico Buarque, do Milton Nascimento, do Pink Floyd e talvez algum antigo do Roberto que, guerreiramente ainda resistem em estantes, visíveis ou escondidos em algum cantinho, guardados com esmero ou esquecidos junto de outras tralhas.

O certo é que nos prometiam, na época, um som perfeito. Sem chiado e para sempre. Ledo engano. Propaganda enganosa. Primeiro que o som do cd não é perfeito. A durabilidade, da mesma forma, não é aquela prometida. Não contavam, também, os executivos das grandes gravadoras com o surgimento de verdadeiros exércitos de piratas que, a exemplo daqueles que transitavam nos mares, saqueavam os navios e se apropriavam das cargas. Os piratas da tecnologia reproduzem as obras com uma facilidade extrema, sem o pagamento dos direitos autorais, destroçando um império que parecia indestrutível.
No início do século XXI, o alvo foi a mídia em cd. Lentamente foi banida. A música deixou de ser transmitida através de meio físico, passando a transitar pelo computador como um arquivo, podendo ser transmitido para o telefone celular, aparelhos específicos para música ou, em último caso, ser gravado em um cd. Download (que em português significa descarregar), baixar, compactar, compartilhar e algumas outras expressões começaram a fazer parte do dia a dia das pessoas. Comprar o último cd do nosso cantor preferido ficou fora de moda.
As transformações tecnológicas foram muitas ao longo dos últimos tempos. No entanto, sujeitos talentosos, como o próprio Rei, como Raul Seixas – que viajou há 20 anos -, como Elvis Presley, The Beatles, Roling Stones e alguns outros, cruzaram uma grande jornada, passaram do vinil para o cd, daí para o MP3 e, certamente, emplacarão em tantas mídias quando forem inventadas, sem que seus sons percam o encanto. E isso certamente ocorrerá ainda pelo menos pelos próximos 50 anos. Quem viver, ouvirá.

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