28/10/2010

Um bom voto

Não é raro, no dia das eleições, quando marchamos decididos em direção à seção eleitoral, encontrar alguém que nos deseje um bom voto. Se ele está com algum adereço de candidato ou tem uma vivência partidária conhecida, trata-se de uma mensagem subliminar, no estilo, “um bom voto é eleger o meu candidato”. Ou, ainda, “escolhe bem quem escolhe o candidato que eu prefiro!”.
O certo é que somente muito depois do barulhinho da tecla confirma é que vamos saber se o voto foi bom ou não. Às vezes isto demora meses ou até anos. Aqueles que dão às eleições o valor de uma competição, de uma final de campeonato, de uma corrida de cavalos, que apostam neste ou naquele candidato com o intuito de ganhar um jogo talvez nem ao menos reflitam sobre o complexo ato de votar. Para eles basta a vitória!

21/10/2010

Gre-nal é Gre-nal

Gre-nal (ilustração- Bruno Reis)

O domingo está reservado ao Gre-nal.  Não é um jogo comum. É uma instituição gaúcha, tanto quanto o churrasco, o CTG, o chimarrão e o Teixeirinha.  São mais de 100 anos de história do maior clássico do futebol brasileiro.  Até o momento foram 382 confrontos. O Inter tem 144 vitórias e o Grêmio 120. Foram 118 empates.  A supremacia colorada em números foi conquistada em dois momentos específicos, o Rolo Compressor, na década de 40, e o período pós-Beira-Rio. 
O primeiro jogo entre os dois rivais ocorreu em 1909, no dia 18 de julho, dias depois da fundação do Colorado. A contenda foi assistida por duas mil pessoas. Os gremistas usavam camisas metade azuis e metade brancas e calções pretos. Os colorados tinham a camisa branca com listras vermelhas. Nas cabeças gorros. Foi a maior goleada de todos os tempos. Dez a zero para o Grêmio. O Inter demorou alguns anos para retribuir. Mas, em 1948, os colorados enfiaram sete a zero, ganhando o título de campeão da cidade de Porto Alegre.

A guerra religiosa e a campanha eleitoral


Dilma Rousseff - Aquarela sobre foto

José Serra - Aquarela sobre foto
A guerra religiosa em que se transformou o debate do segundo turno da eleição presidencial é desagradável, dispensável e quase nenhuma contribuição oferece ao esclarecimento e ao convencimento do cidadão. O espaço, que seria destina para a reflexão sobre os grandes temas nacionais, sobre os investimentos futuros, sobre as diferenças entre os projetos dos dois candidatos, tomou outro rumo. O período de propaganda eleitoral transformou-se num cansativo blá-blá-blá de lideranças religiosas.
E não se pense que o rumo escolhido foi involuntário. As lideranças partidárias bem sabem que 25% dos eleitores pertencem a alguma crença mais tradicional, onde a salvação é vista como um presente dado por Deus aos escolhidos. Neste mundo, conforme suas convicções,  há dois povos distintos o povo de Deus e os pecadores, também conhecidos como os ímpios.

14/10/2010

Aos mestres com carinho

As duas postagens abaixo são dedicadas aos professores. Mestres num ofício essencial para o desenvolvimento da sociedade, não encontram o devido respeito que merecem. Os textos lembram algumas figuras históricas da cidade de Osório e região e que fizeram parte da minha vida. Na postagem "A dura tarefa dos mestres" lembro a professora Marieta num reconhecimento aos anos de trabalho dedicados à educação. No ano passado, poucos dias depois de publicada a crônica no Jornal Bons Ventos ela  nos deixou. Comovida, sua filha Sandra, disse-me, entre lágrimas, que sua mãe havia partido feliz. Dentro de sua bolsa, no dia de seu falecimento, os familiares encontraram, entre seus documentos, minha coluna recentemente publicada.
Descansem em paz mestres que já partiram. Tenham certeza que por aqui marcaram muitas vidas!

Betinho, professor de estilo

Betinho (direita), Alemoa e Brito

O Colégio Conceição ainda fazia parte da nossa paisagem. A cidade vivia os anos de chumbo. Era contida em seus costumes e na sua forma. A censura ainda imperava de tal forma que tínhamos a impressão de que até os confessionários das igrejas estavam grampeados.  Na escola todo o cuidado era pouco. Sempre havia a possibilidade de que alguém levasse para fora alguma frase que fosse um atentado à Pátria. Estudávamos OSPB – Organização Social e Política do Brasil. Às vezes as aulas empolgavam tanto quanto um sonífero.
Num dado momento surgiu um professor jovem, cabelos longos, escorregadios, barba por fazer, um jeito de índio, carregando uma inseparável bolsa hippie de couro toda colorida atravessada no corpo. Às vezes mandava mensagens cifradas, falava em liberdade e coisas deste estilo. Juntava só os meninos na aula para falar sobre educação sexual. Só dois ou três se atreviam a fazer perguntas. O resto da turma corava e nenhuma palavra saia de suas gargantas. Em seguida virou ídolo, parceiro, conselheiro e guru.

A dura tarefa dos mestres

Crônica publicada originalmente no Jornal Bons Ventos, em homenagem ao Dia do Professor, em 2009.


A tarefa do educador está historicamente ligada aos mestres gregos. Coube aos sofistas a missão de levar conhecimento às massas. Como a sociedade grega exigia dos cidadãos algum esclarecimento para a tomada de decisões, os sábios, em troca de remuneração, ensinavam as artimanhas da persuasão e da retórica. Neste processo, era incentivada a construção de um discurso aparentemente consistente, mesmo que formado por premissas falsas. Sócrates e Platão, no entanto, destacaram nos sofistas esta conotação de falsidade. Porém, é inegável, que contribuíram decisivamente para a instituição do processo de educação formal.

12/10/2010

As crianças

Na terça, 12 de outubro, foi o Dia das Crianças. Para muitos foi um verdadeiro Natal antecipado, no seu sentido mais mercadológico possível.  Pais e mães correndo para as lojas com o intuito de comprar algum brinquedo ou bem de consumo mais duradouro.
Agradar estas feras não é fácil. A tevê tem nas crianças um público consumidor de grande poder. Eles recebem primeiro os avanços tecnológicos, eles opinam em tudo, querem ser ouvidos em todas as questões da casa. Os pais, que não têm muito tempo para ouvi-los, acabam optando por conjugar os verbos comprar, presentear, ceder e tantos outros verbos  como se isso tivesse o condão de desonerá-los e remediar a falta de convívio.

07/10/2010

Os Caras

Na minha adolescência era comum utilizarmos a expressão “cara”. Era uma gíria que usávamos para cumprimentar os amigos e conhecidos, substituindo o nome do indivíduo. “E aí, cara, como vai?”.  A palavra cara nos desobrigava de saber o nome das pessoas, pois todos os rapazes cabiam naquela expressão. De certa forma havia um estreitamento nas relações, inclusive com aqueles que não conhecíamos muito bem. Era muito fácil dizer: “E aí, cara?!”.
Agora até as meninas usam o cara. Claro que o costume não é o mesmo. Na realidade é uma corrupção do termo Caraca usado para substituir um palavrão muito parecido com carvalho. O uso intenso nasceu dos costumes novelísticos.
Existem caras legais, caras não muito legais, caras corruptos, caras chatos e caras simpáticos. Mas só alguns são “O Cara”. Estes são os destaques da escola de samba, o orador da formatura, o nota dez da turma, o craque do time e o bonitinho da galera.