28/06/2011

Encontro de amigos numa noite fria

Comissão organizadora do Encontro dos Amigos de Osório 
A noite era de um frio intenso. Dessas invernais em que, não obstante a vontade, por qualquer motivo - existente ou ficto-, pagamos para não sair de casa. O ideal seria, com certeza, encontrar uma boca de fogão a lenha e ali colocar os pés para esquentar a alma, se houvesse como. Ainda por cima, uma chuva fina insistia em dar o ar da graça. O vento vez por outra ganhava força e se impunha, assoviando forte, batendo janelas e portas, balançando placas de sinalização, revirando sombrinhas e despenteando os corajosos. Amigos de longa data, enfrentando o clima adverso, se deslocavam para o encontro, combinado pela rede social Facebook.
Nós chegamos um pouco antes. Eu e o Jerri já tínhamos passado o som, revisado luzes, ensaiado alguma coisa. Tudo parecia perfeito. Os membros da equipe de trabalho já ocupavam seus postos. O time da organização vinha chegando. A casa, pequena, aconchegante, foi recebendo os primeiros convidados. Eram recepcionados  calorosamente com beijos e longos abraços. Gente que não se via há eras.  Amigos do passado, dos bancos escolares, das estripulias da vida infantil, dos primeiros namoros juvenis, separados pelo vai-e-vem da exigente vida adulta.

22/06/2011

Um menino comum

Arte sobre foto

Houve um tempo que imaginava contar com um poder oculto. Chegaria o dia em que tal poder viria à tona e, aí sim, daria minha contribuição decisiva mudando o mundo.  Tal qual ocorre com os grandes heróis que povoam a infância de qualquer garoto, manteria este poder envolto em um segredo absoluto. Talvez um ou outro confidente, como Batman, que contava com o eficiente mordomo Alfred, dividisse comigo este fardo que é manter ilesa e oculta a minha personagem secreta.
Durante o dia estaria por aí, como um cidadão comum, desempenhando tarefas corriqueiras, sem chamar muito a atenção. Afinal de contas, nessas histórias de heróis, discrição é a alma do negócio. Diante do perigo, porém, daria uma desculpa qualquer e me lançaria em mais uma missão onde minha interferência seria decisiva, fundamental. Depois de mais um ato grandioso, apareceria novamente, talvez com cara de songa-monga ou mocorongo, como se nada soubesse, sem deixar pistas de que havia feito um esforço fenomenal para salvar a humanidade de alguma catástrofe.

15/06/2011

Energia renovável para um mundo sustentável

Fac-símile da capa do
caderno Nosso Mundo 
Sustentável, de ZH

Os computadores de mesa ainda não haviam chegado por aqui. As novidades do Vale do Silício eram coisas para americano endinheirado. A internet era embrionária, servindo somente para comunicação entre os bancos de dados de grandes universidades dos EUA. Neste pedaço de Rio Grande, muita estrada de chão batido e pouco asfalto. A década de 80 marchava para o seu final. Semanalmente eu e o Sérgio Tressoldi, o Bolão, numa Brasília branca, nos dirigíamos a Palmares do Sul onde produzíamos um material jornalístico para a Rádio Osório.  Com um gravador realizava entrevistas com as autoridades de então. Se algum fato extraordinário ocorresse, um telefone convencional quebraria o galho, muito embora, algumas vezes, a voz fosse suplantada por um ruído fortíssimo.

07/06/2011

Noticiário pornográfico

Tal qual ocorre depois dos anúncios de cigarros, após os noticiários de tevê deveria ser divulgada uma vinheta onde o locutor apressadamente diria: “o Ministério da Saúde adverte, assistir noticiários à noite pode causar enjoo, ansiedade, depressão e insônia”.  Ou melhor, o mais correto para evitar problemas de saúde aqui na planície seria rodar a vinheta após cada notícia que envolvesse a Capital Federal e os seus condôminos.
A impressão que fica para todos nós que ignoramos solenemente o tamanho da roubalheira que assola as finanças do país é de que o Brasil não é a sexta economia do mundo, mas sim a mais poderosa de todas. Basta ver as cifras que se divulgam todos os dias em esquemas milionários que desviam verbas da Saúde, da Previdência, da Educação, da Segurança Pública, das obras públicas federais, estaduais e de muitos municípios. A gatunagem não respeita nada, absolutamente nada. Nem o remédio dos doentes da nação, nem a merenda dos nossos pequenos e futuros cidadãos que, um dia comandarão esta máquina, ficam imunes à insana malícia desta gente.

01/06/2011

Os gênios e os loucos

Raul Seixas ( arte sobre foto)
Televisão não havia em casa. Valia-me da vizinha mais próxima para assistir a algum programa. A diversão não era segura, pois dependia do humor do casal. O problema é que, vez por outra, elegiam as tardes de domingo para colocar a vida afetiva em ordem. Ciumento e calibrado com alguns goles a mais de cachaça, o marido – gente boa quando sóbrio - muitas vezes partia para a ignorância, tentando agredir a esposa. Entre gritos, impropérios e empurrões, desferidos de lado a lado pelos desafetos, eu e os filhos do casal prudentemente abandonávamos o conforto do sofá e fugíamos para o lado mais seguro, o de fora da casa. As crianças retornavam quando os ânimos acalmavam. Eu, dotado de alguma dose de prudência infantil, abortava qualquer tentativa de diversão e fitava a casa de longe, ouvindo somente os sons do programa preferido.