14/11/2018

Conhecimento, consciência e opinião

Conhecimento e consciência são dois termos que caminham juntos há muito tempo. Sócrates, filósofo grego, alertava sobre a necessidade de o homem buscar as respostas para seus anseios a partir do autoconhecimento. Ou seja, sem conhecer a si mesmo não pode o indivíduo responder aquelas dúvidas tão comuns sobre a sua identidade, sobre o seu papel histórico, sobre o seu caminho, sobre suas angústias e aspirações.
Nos dias atuais é comum a confusão que se estabelece entre conhecimento e opinião. Opinião são as considerações que fazemos sobre algo a partir de algumas impressões pessoais: - como será o dia de hoje? “-acho que vai chover”. Poderia dizer que teremos muito sol. E poderia errar ou acertar. Opinião é a manifestação feita sem embasamento teórico ou mesmo prático. Assim, não é necessário que o indivíduo seja especialista para opinar sobre meteorologia, sobre esportes, sobre economia, sobre a política nacional e internacional, sobre o comportamento dos mercados ou mesmo sobre medicina. Basta um computador ou smartphone e uma conexão com a internet. Afinal, todos nas redes sociais têm opinião.

Conhecimento não é isso. Aliás, passa longe disso. Conhecimento é vivência: acadêmica ou não. É conteúdo. É busca. É envolvimento sério. Teoricamente se diz que “conhecer é uma atitude mental por meio da qual o ser humano se apropria do mundo ao seu redor”. A opinião, por mais incisiva que possa ser, não é capaz de proporcionar este grau de envolvimento.
Dê-me uma tela, pincéis e tinta. Como não tenho conhecimento de pintura não apresentarei um resultado apreciável. Talvez nem o meu melhor amigo tenha a coragem de olhar para o que eu produzi e lançar um elogio. Ocorre que, para pintar um quadro é necessário certo domínio de técnicas, de proporções, de sombreamento, de matizes, de cores. Isto é conhecimento.
Diante de um quadro toscamente pintado por mim eu tenho consciência de que aquela obra não é uma obra-prima. Não é um marco artístico. Ou seja, a consciência também contribui para a formação do juízo de valor.
Indo mais a fundo em termo espirituais: a consciência é o conhecimento que o indivíduo tem da sua existência, do meio em que vive, do certo e do errado. É saber o seu tamanho espiritual. É conhecer seus medos, seus limites, seus talentos. Ou seja, conhecimento e consciência estão ligados em termos de existência espiritual. E não há como alargar a consciência sem um mergulho sério, determinado no seu próprio interior. Esta busca vai revelar ao indivíduo atento as respostas às questões ais íntimas que se apresentam.
Todos os indivíduos têm suas dificuldades na vida. Quem ainda não teve é certo que mais dia menos dia terá. Em regra estas dificuldades estão relacionadas à forma como ele se relaciona com as pessoas que o cercam, com o trabalho que desenvolve, com as frustrações, com as dores no corpo e na alma, com a ansiedade e o stress. Onde estão as respostas? Em regra, busca-se no exterior. É o trabalho que não remunera bem, é o talento que não é reconhecido pelo chefe, é isto ou aquilo.
No entanto, normalmente, as frustrações estão relacionadas ao modo de sentir a vida pelo próprio indivíduo, as expectativas que ele tem dos outros, a imagem que ele constrói de si mesmo. Como não dá para mudar o outro, conclui-se que cabe ao próprio indivíduo que realize a sua mudança. O passo inicial, segundo o pai da Filosofia, é aquele mergulho interno na busca do entendimento de seu próprio ser, conhecido como autoconhecimento.
Claro, este processo investigativo pode, às vezes, se tornar algo incomodativo, pois os seres escondidos podem se revelar estabelecendo uma luta interna. Então, é comum que essa luta seja adiada ou mesmo cancelada pela desistência do indivíduo.
Alguns dos amigos leitores certamente podem achar que este tema já foi superado. Afinal, os tempos são outros, há preocupações bem mais prementes, a vida é rápida e não há tempo pra discussões socráticas. Respeitosamente divirjo. Na superficialidade os indivíduos não crescem. Olhando os “defeitos” dos outros e divulgando os atavismos alheios não vamos muito longe. Precisamos ir longe. O caminho está no começo e há uma légua imensa a ser vencida. Ou não?

- Enquanto escrevo esta crônica leio a informação de que o querido Martim Espinosa partiu. Nosso goleiro dos tempos do jogo no campinho foi embora. Sinto muito quando gente boa deixa a cena. Um abraço na Ercília, na Jéssica e em todos os familiares.

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