11/02/2019

As minas


Mina terrestre, artefato de guerra
Os dramas coletivos são capazes de inscrever no mapa locais até então desconhecidos da grande maioria das pessoas. Em 2015, Mariana, a primeira capital da Província de Minas Gerais, vinha vivendo um período de pouco destaque, muito embora a grande produção de minérios. A mineradora Samarco protagonizou um desastre com o rompimento de uma barragem matando 20 pessoas e causando praticamente a destruição do Rio Doce. Até o momento era o maior desastre ecológico registrado no país.
Agora foi a vez de Brumadinho, uma pacata cidade mineira de menos de 40 mil habitantes, vivenciar um drama ainda maior. Entre mortos e desaparecidos mais de 300 pessoas. A Vale, empresa que explora a mineração na área, lamentou muito o ocorrido. Suas ações na bolsa de valores caíram 20%, diz a manchete do jornal.

Dois dramas. A mesma receita. A mesma ação. Como os recordes estão aí para serem batidos, o drama de Brumadinho se coloca na dianteira entre os desastres ecológicos registrados na Pátria Amada.
Faz alguns dias uma dessas lideranças da nova era afirmava descaradamente que a questão ambiental era coisa de marxista. O presidente mesmo, naquelas manifestações tão aplaudidas pelos seus fiéis seguidores, logo em seguida afirmava que o licenciamento ambiental causava grande prejuízo ao empresariado. A norma era flexibilizar. O empresariado bem merecia maior liberdade para cavocar seus lucros sem tanto achaque governamental.
O desastre criminoso em Minas Gerais, que consumiu centenas de vidas, trazendo dor e sofrimento para milhares de pessoas e consternação em todo o planeta, é daqueles fatos que desmancham teses. As leis ambientais tão duras contra os pequenos parece tão flexível quanto ineficaz quando o interesse é de grandes conglomerados. Pelo número de mortos nas duas tragédias mineiras (Mariana, em 2015 e Brumadinho mais recentemente) e pelo alerta de que existem mais 400 barragens construídas no mesmo estilo em Minas Gerais, pode-se acreditar que a exploração econômica é a grande prioridade. A vida humana parece ser um mero detalhe.
Mesmo não sendo marxista (muito embora poderia sê-lo), preocupo-me com a questão da flexibilização da lei ambiental. Claro, é razoável destacar que a culpa não recai sobre este ou aquele presidente ou governador. O Poder Público como um todo vem claudicando. E faz tempo. Uma tragédia que poderia ser evitada e que se repete desta forma, talvez possa servir de alerta aos que preferem o discurso fácil e descomprometido com a realidade das pessoas. Melhor seria dizer, o discurso fácil e comprometido com a realidade dos investidores.
Ás vezes é melhor ser duro onde precise e flexível onde seja necessário. Os políticos, em muitos casos, optam pela dureza onde é desnecessário e pela flexibilidade onde seria impensável. Contam com os aplausos irresponsáveis e pelos vivas das redes sociais. Se algo não der certo a culpa é do outro. E assim seguimos rumo ao desconhecido.

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