22/04/2010

A força dos dizimados


Índios botocudos- Minas Gerais


Quando Pedro Alvarez Cabral por aqui chegou, em 1500, aproximadamente seis milhões de silvícolas encontravam-se espalhados por esta imensa extensão de terra. Eram mais de 1700 povos, com culturas e línguas distintas. Reza a tradição que os povos foram chamados de índios, pois os navegadores acreditavam estar chegando à Índia que seria o destino traçado. Na verdade, indian era a designação genérica dada pelos europeus a todos aqueles que moravam em locais muito distantes do centro da civilização.
Os índios sentiram na pele a força opressora dos colonizadores que impuseram crenças, escravizaram tribos inteiras, espalharam suas doenças, terminado por dizimar boa parte do povo. Os franceses, mais cordiais, foram os que melhor se integraram com os índios. Os portugueses, no entanto, por serem em maior número ocupavam as terras com violência, saqueando e aprisionando homens, crianças e mulheres.

O Rio Grande era habitado por três grandes grupos indígenas. Os guaranis, 90% da população, algo em torno de 90 mil pessoas. Eram comunistas puros, organizados em estado, plantavam milho, feijão, algodão e fumo. Eram polígamos e o chefe podia contar com um harém de 20 mulheres, desde que pudesse sustentá-las. Os Gês eram vaidosos, pintavam o corpo e o ornavam com penas. Praticavam a agricultura. Um dos seus costumes peculiares era punir o homem diante de uma falta com a realização de tarefas femininas. As mulheres eram punidas sendo entregues a outro homem.
Os Pampeanos, que reuniam os Charruas e os Minuanos, dominavam as terras do sul do Estado, do Uruguai e parte da Argentina. Não tinham chefe, nem praticavam a agricultura. Comiam ema e veados, completando a dieta com frutas. Entre seus costumes encontravam-se a troca da mulher velha por uma mais nova e o corte da falange dos dedos pela mulher quando o companheiro morria, em sinal de luto. Os Charruas assavam a carne da caça espetada em pedaços de pau. Os Minuanos tomavam chimarrão e usavam boleadeiras, poncho e xiripá. Dos dois grupos nasceram inúmeros costumes cultuados até hoje pelos gaúchos.
Um dos costumes indígenas mais incorporados no país é o do banho diário. Os europeus, hábeis em conviver com temperaturas extremas, desenvolveram perfumes para suportar o cheiro exalado pelos seus próprios corpos, achavam que o excesso de banho prejudicava a pele. Hoje sabemos que um bom banho acaba com um sem número de doenças. Os brasileiros natos já sabiam disto, tanto que optavam por viver perto das águas.
Os números oficiais sobre a presença indígena no Brasil dos dias de hoje são conflitantes. O certo é que o IBGE, que conta com censo periódico, indica que 0,4% da população é indígena. Mesmo sumidos dos mapas oficiais, os dizimados ainda estão presentes no nosso dia a dia. Não como um gemido de sofrimento que se espalha pelo vento frio da campanha, como alguns poetas clamavam no passado. Em cidades como Tramandaí, Imbé, Araranguá, Garopaba, Jacuí, Guaíba, por suas avenidas Sepé, Içara, Paraguassú ainda transitam as Aracis (aurora), as Cecis (mãe do pranto), os Cauãs (gavião), os Ubirajaras (dono da terra) ou os Peris (esteira de junco). Os gaúchos ainda chamam o guri (pequeno bagre), ainda comem goiaba, abacaxi, aipim.
O índio, que mal lembramos no dia 19 de abril, ainda corre por aí, nas colinas, nas beiras dos açudes, nas matas. Sua presença está muito mais entranhada do que imaginamos. Está no sangue que corre nas veias de grande parte do nosso povo.

foto:arquivo - Imagens Históricas

Nenhum comentário:

Postar um comentário