09/12/2011

O homem primitivo hoje

Se um homem primitivo, daqueles que se orientavam tão somente pelo instinto, fosse catapultado até os nossos dias, levaria tal susto que seus membros ficariam imobilizados. O pavor tomaria conta de seu pequeno cérebro. Como tudo seria novo, grandioso, inexplicável, não se descarta a possibilidade de que o choque danificasse mesmo o funcionamento de sua mente. Tudo o que existe, prédios enormes, carros, tratores, aviões, escadas rolantes, anúncios luminosos, estátuas, monumentos seriam percebidos como grandes feras, prontas para um ataque.
Há um enorme fosso separando este homem primitivo do contemporâneo. Nossos antepassados mais remotos viviam sob o império do instinto. O medo, arma mais do que eficaz para a preservação da espécie, ditava o comportamento naqueles tempos marcados pelo constante  ataque das feras, de ameaças, de cataclismos, de transpiração e pouca inspiração.
Ao longo do tempo o que mais o homem fez foi trabalhar para superar seus medos. Os mais notáveis foram criando instrumentos de defesa, rudimentares, mas eficazes. A lança foi, talvez, a primeira arma. De forma simples, ela afasta o homem da presa, invertendo a lógica daquelas eras: o caçador muda de lado, agora é a caça.
A própria redução das distâncias, com o surgimento do transporte, primeiro a navegação depois os trens, carros e aeronaves, atestam a intenção do homem de buscar uma aproximação com os iguais. Juntos seremos mais fortes, talvez tenha pensado alguém lá num passado remotíssimo.
Nos tempos atuais a tentativa ainda é a da aproximação. As redes sociais, hoje tão corriqueiras, de alguma forma conectam todos os seres, reduzindo a zero as distâncias existentes no mundo físico. Porém, não obstante as vantagens inquestionáveis do mundo virtual, ainda aí, em casos cada vez mais comuns, graça o primitivismo que carregamos em nossas células. Nem sempre a tecnologia tem sido usada como ferramenta de difusão de ideias construtivas. Aliás, poderia dizer que raras vezes nossos amigos virtuais contribuem para que o nosso dia seja um pouco melhor. Tanto quanto ocorre com nosso ambiente natural, agredido insistentemente da forma como bem sabemos, o ambiente virtual não escapa da insânia, da irresponsabilidade deste seres plugados, conectados na grande rede.
Ao invés de glorificar as boas atitudes, de difundir bons pensamentos, o que mais se vê são o escárnio, a insistente galhofa (travestida de humor) e o lugar comum (que não leva a lugar nenhum). O excesso de conteúdo proporciona uma leveza, uma falta de compromisso com a qualidade nas postagens que, às vezes, até assusta. Poluem um ambiente que poderia ser gostoso, agradável e construtivo. Jogam lixo na web como jogam pelas janelas dos carros.
Nas redes, e também no mundo real, encontramos homens de todos os tons. Inclusive gente muito próxima dos nossos primitivos irmãos. Usam as ferramentas modernas sem a racionalidade. Estão conectados com os seus instintos. Por isso, muitas vezes agridem. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário