17/05/2012

O homem de bem

Não é nenhuma novidade que os tempos são outros. Nas duas décadas que se passaram a Terra cresceu em informação. O mundo todo em só clique. Liberdade de informação a todos, indistintamente. “Dê-me um mouse e eu desbravarei o mundo”, diria hoje com razão o matemático Arquimedes. Imaginava-se que, diante desta tal liberdade, os costumes mais arraigados e menos construtivos sofreriam um grande baque.
Que nada! Não obstante o acesso e o amplo domínio da linguagem das mídias pós-modernas pela meninada resiste ainda entre estes mesmos jovens o ranço do preconceito. Não há coisa mais antiquada do que discriminar o outro. Cenas execráveis as protagonizadas pelos meninos e meninas que de celulares em punho acompanham a selvageria cometida por grupos contra colegas. Vez por outra os lamentáveis espetáculos produzidos nos corredores de escolas ou na saída das aulas tornam-se virais nas redes sociais. O que se vê? Jovens de tenra idade saciando sua sede. A violência estudantil, que não é coisa de hoje, é a reprodução do mundo intolerante que vivemos.
A pesquisa divulgada recentemente pela pesquisadora Miriam Abramovay chegou à conclusão que 45% dos alunos e 15% das alunas não gostariam de ter como colegas homossexuais. O estudo da coordenadora da área de Juventude e Políticas Públicas da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso) revela, ainda, que esta discriminação se traduz em insultos, violência simbólica podendo mesmo chegar até a violência física. O resultado de tudo isso? Jovens desistindo da escola, frustração, sentimentos de vulnerabilidade, de impotência. 
Cada indivíduo é dono do seu destino. Isto é um fato. Na prática deveria funcionar desta forma. Não cabe às hordas juvenis definir o que é bom, o que deve ser aceito como normal ou anormal. Aliás, não cabe a ninguém definir o caminho correto para a sexualidade e para os costumes dos outros. O mesmo vale para os aspectos religiosos, políticos e outros menos votados.
Os conceitos previamente concebidos (preconceitos) atrasam a vida do indivíduo e da sociedade. O ideal é que cada um dos indivíduos cuidasse de seu próprio nariz. O compromisso de cada ser seria julgar as suas próprias atitudes, buscando seu aperfeiçoamento. Com isso não sobraria tempo suficiente para enquadrar os outros nos seus padrões. 
Mas o ideal é, segundo o dicionário, aquilo que só existe na imaginação. Já que assim está posto, o negócio é imaginar. Imaginar que a escola desenvolverá ações duradouras na abordagem dos temas liberdade, preconceito, homofobia, etiqueta no uso das redes sociais. Que os pais falarão com seus filhos que devem respeitas aqueles colegas que não têm as mesmas preferências, que são diferentes. Imaginar que o homem se volte muito mais para a construção de seu próprio caráter do que perca tempo rotulando os seus semelhantes.
Imaginar é preciso. Passa pela imaginação a construção do homem de bem. Ele não existe ainda, bem sei. No entanto, o homem ideal nascerá. É o que imagino! 

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