22/02/2012

Falsas previsões

O programa iniciava às 14h. Música, informação e participação do ouvinte. No meio de tudo isso "saiba como será seu dia de amanhã, com as previsões de seu signo". O horóscopo era algo importante, tanto que Zora Yonara e Omar Cardoso tinham espaços generosos no jornal, no rádio e na tevê. No meu caso havia, no entanto, um problema. Naqueles tempos não se conseguia horóscopo para o ano todo. Restavam, porém, duas alternativas: gravar a previsão transmitida por uma rádio de Porto Alegre e depois lê-la, ou, a mais fácil, criar previsões fresquinhas para todos.
Não preciso dizer que a segunda alternativa era a mais tentadora, mais fácil e mais aplicável ao caso em concreto. Assim, os ouvintes do meu primeiro programa de rádio, lá no começo da década de 80, passaram a receber as previsões que eu mesmo fazia. "Leão - seja mais cuidadoso, invista parte dos seus rendimentos. Nunca se sabe o dia de amanhã. O período é favorável para conhecer novas pessoas", lia com voz empostada.

07/02/2012

A luta do bem contra o mal

Cartaz do filme Blade Runner

O rapaz postou na rede social uma imagem de um pretenso estuprador retalhado e com o membro enfiado na boca. É chocante a foto e inúmeros são os comentários e o replicar da postagem como forma de vingança. Os jovens, como cães selvagens, se deliciam com a carne exposta. A animalidade sacramentada pelas ferramentas de então. Estado de Direito, quê nada! A vingança privada das massas anônimas. A carreta na frente dos bois como diria minha mãe.
A luta entre o bem e o mal. Não há tema mais corriqueiro, mais atual e, ao mesmo tempo, mais interessante. Cinema, teatro, romances, jogos. Os sujeitos que digladiam, invariavelmente, representam as duas faces. 
Uma das mais belas obras de ficção científica produzida pelo cinema americano, o filme Blade Runner, de Ridley Scott, na época de seu lançamento (1982) aborda esta clássica temática. Não agradou à crítica, foi um fracasso de bilheteira, enfim passou batido. Contraditoriamente, anos depois se tornou cultuado. Eu mesmo só fui conhecê-lo em 1989, numa fugidinha da redação do Correio do Povo. Ali no Cine Imperial, numa das dezenas de reprises, me instalei numa poltrona. Saí de lá inebriado, contagiado. O Detetive Deckard, Harrison Ford, caçava pelas ruas da caótica Los Angeles, em 2019, um bando de andróides que mereciam morrer.

04/02/2012

Minuano Limão: "eu bebo porque gosto, tchê!"

Aqui pelas bandas dos pampas, nos anos 70 e 80, quando se falava em refrigerante (ou refri como preferia a turma do Bom-Fim), não estava se falando da Coca-Cola. Os gaúchos foram os últimos a se entregar aos encantos da Coca. Foi o reduto onde a Pepsi resistiu bravamente na preferência popular.
Mas a Pepsi tinha os concorrentes locais. Dois deles se destacavam entre a garotada. Minuano Limão e Guaraná Frisante Polar eram os grandes refrigerantes desta terra. O Minuano, fabricado pela Vontobel, era delicioso. Na sua publicidade um gaudério exclamava no final: Eu bebo porque gosto, tchê!
O Guaraná Polar tinha um jingle especial que não saia da cabeça dos meninos: "Guaraná Frisante Polar, refrescante, refrigerente, Guaraná Frisante Polar...". 
O Guaraná Fruki, vendido em caminhões pelo interior do Estado, também tinha um bom espaço por aqui. Aliás, foi o primeiro que eu tomei. Tão logo o caminhão passou na Vila das Pererecas (hoje Loteamento Popular) sai correndo com algumas moedinhas na mão. Cheguei suado e ofegante. O vendedor, no meio de engradados aquecidos por um sol escaldante de verão, abriu a garrafinha e me entregou. Ali mesmo, o líquido quente desceu pela minha garganta!

Saiba mais sobre o Minuano Limão: Publicidade ; Lembranças 

02/02/2012

Os padrões de beleza

O nascimento de Vênus, Botticelli

Segundo consta o panorama está mudando, pelo menos no quesito masculinidade. Saem de cena os metrossexuais e voltam à cena os homens normais. Os homens excessivamente preocupados com a aparência, com a aplicação de generosas camadas de hidratantes na cútis, com os cuidados com as unhas, com depilação e com os últimos lançamentos de produtos de beleza, ao que tudo indica, estão se despedindo. Em seu lugar entram homens não tão barnabés quanto os antigos, mas preocupados com o bem-estar, com a saúde, porém, não se torturam na frente do espelho, nem entram em crise com o aparecimento de cabelos alvos ou, ainda, com a impossibilidade de adquirir aquele produto recém lançado em Londres.
Par e passo, aparece ainda com timidez nas redes sociais o movimento que ressalta a beleza das mulheres comuns. Uma resposta ao padrão de beleza atual, onde os ossos proeminentes agridem nossos olhos. É tão absurda a ditadura da moda que as modelos, estas mocinhas pálidas, visivelmente sem saúde, parecem volitar pela passarela conduzindo vestimentas que só cabem naqueles corpinhos esquálidos. Dão a impressão de que vão desmaiar de fome nos próximos passos. Contraditoriamente, quanto mais privações sofrem, mais valorizam sua estampa. Porém, para um cidadão comum, como eu e tantos outros, que somos de carne e osso (e, quem sabe, alguns pneuzinhos aqui e ali), estas modelos são retratos de sofrimento. Não há sensualidade, não há beleza. Alguém já disse que nos desfiles de modas as modelos são meros cabides.

Onde estão os meus guidis?

Tênis Bamba

Até bem pouco atrás, os gaúchos não diziam tênis. Os calçados tão apreciados pelos jovens eram chamados de guidis. Segundo consta, o primeiro modelo de tênis adotado aqui nos pampas era fabricado pela empresa americana Keds, que está até hoje no mercado. Era um calçado colorido, de lona e de solado de borracha. Pouco conhecedor do inglês, o gaúcho de então acabou corrompendo o termo que se transformou em "guidis". E guidis virou sinônimo de tênis.
As marcas mais apreciadas por aqui, especialmente entre o povo menos endinheirado, nos anos 70 e 80 eram as singelas congas azuis, que faziam parte do uniforme escolar; o Kichute - quem usava virava um craque no futebol e o Bamba - um pouco mais refinado e ideal para o futebol de salão (como o futsal era chamado na época). 
Lembro que certa feita houve uma temporada grande de chuva. Minha mãe colocou o meu Kichute a secar no forno do fogão. Era o único par que dispunha. Entretida com seus afazeres, acabou esquecendo do calçado e quando se deu conta havia passado do ponto. Ao retirar encontrava-se seco e quebradiço. Que dor! Era meio de mês e durante as semanas que se seguiam as Havaianas foram minhas companheiras.

Postagem publicada originalmente na página Anos 70/80. Leia mais sobre publicidade, produtos e curiosidades destas décadas, acessando o link  Anos 70/80

Glossário
Tênis Keds
Kichute
Tênis Bamba