04/06/2013

Maionese, ketchup e mostarda

Programa quase que obrigatório aos sábados pela manhã é a ida até a feira do produtor. E o costume não é de hoje. Na pequena cidade de Campina das Missões, há 634 km do Litoral Norte gaúcho, há quase 20 anos, minha visita à feira tinha um objetivo específico: comprar cucas russas produzidas no interior do município por pequenos agricultores.
As cucas de lá são as melhores que conheço. E mais, de tão saborosas, dispensam qualquer tipo de cobertura. Basta um cafezinho com leite. Nada de margarina, de schimier, de manteiga.Quando muito uma nata, não dessas industrializadas, mas sim aquela saborosa substância que sobressai do leite fervido. Tão somente aquela nata valoriza a cuca e não corrompe o seu especial sabor.
Dizem que a produção é um trabalho penoso. Os ingredientes devem ser misturados num processo lento, chegando a levar até uma semana para que a cuca mostre sua verdadeira cara. Por isso a produção era artesanal, resultando em poucas unidades. Raras eram as senhoras que se dedicavam ao seu preparo. Até chegar ao forno, doses extras de paciência parece ser o ingrediente necessário nesta tarefa de aguardar o desenvolvimento do trabalho feito pela natureza no processo de fermentação da massa.
Numa visita à redação do Correio do Povo e da Zero Hora, acompanhado pelo querido amigo Abílio Kapelinski, prefeito daquela distante e distinta cidade, trouxe alguns exemplares da produção artesanal campinense. O porta malas do carro oficial veio cheio de cucas russas que foram distribuídas nas redações dos jornais entre os editores e repórteres da Central do Interior. As cucas abriram portas. Pequenas notas sobre a cidade começaram a aparecer na grande mídia. Sinal de que o trabalho bem feito lá na colônia tem um valor muito maior do que o preço cobrado pela sua venda.
Estas imagens antigas me veem à mente quando penso no costume cada vez mais presente de besuntar pizzas, pastéis, hamburgueers e até batatas fritas com as indefectíveis maioneses, ketchup e mostarda. Molho e mais molho para ressaltar o sabor.
Sejamos honestos, as pizzas industrializadas, essas que se encontram nos supermercados, não são dotadas de sabor. O sabor é o próprio molho. E este truque, adição dos molhos, é um golpe certeiro e um requisito indispensável para que a indústria consiga vender as imitações de pizzas e as imitações de hamburgueres com gosto de papelão.
Porém, como o sábio previdente bem alertou, tudo aquilo que está ruim pode ficar um pouco pior ainda. E de fato, a corrupção do sabor saiu das gôndolas dos mercados e, de modo silencioso e imperceptível, vai conquistando terreno. Seu crescimento é tão grande que vem atingindo até os locais insuspeitos. Nota-se nas boas pizzarias, aquelas que primam pelo verdadeiro sabor, que os comensais, seduzidos pelo apelo das indústrias, repetem o ritual e, inadvertidamente, lambusam seus pratos com generosas doses de molhos derrubando, assim, o esforço do pizzaiolo.
Tendo em vista o eventual sucesso deste sórdido plano patrocinado pela indústria alimentícia que gera verdadeira corrupção do nosso paladar, lanço aqui um manifesto pela manutenção dos sabores saudáveis. Os gritos de ordem de agora em diante serão: “pelo sabor genuíno das cucas de Campina das Missões; pelo gosto insuperável das pizzas da À Lenha; fora maionese, ketchup e mostarda; viva a salada do chef; viva a nata e o leite colonial”.

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