
Mas, se
o céu está rebelde e derruba água sem conta. Se raios riscam a
escuridão e se jogam na mata, assustando os meninos que não
conseguem dormir, o perigo está à solta. Se mesmo os cães, tão
zelosos e valentes, abandonam seus postos e buscam refúgio temendo o
barulho ensurdecedor dos trovões, todos têm certeza: Santolin está
atento. E se o vento assoviar e com sua força jogar os galhos das
árvores próximas da casa para lá e para cá e se esses galhos
molengos como marionetes baterem nas telhas e assustarem o gato
Mimoso, que se esconde embaixo do fogão de lenha, ainda quente, o
homem encontrará todas as condições para agir.
Santolin
entrará pelo portão da frente, passará pelo lado da casa, visitará
os quintais, entrará nos galinheiros, carregará o que pode. E
ninguém, absolutamente ninguém o verá.
E no
dia seguinte, quando o vento já sumiu, os raios se foram, os trovões
cessaram e a chuva passou, restará somente a lama no pátio, as
folhas caídas no quintal e uma telha quebrada. O cusco com cara de
sono se levantará lentamente. O galo que sobrou no galinheiro nem
cantará. Triste, sentirá falta da companhia que se foi. E o dono da
casa, que recém saiu da cama, passará as vistas pelo quintal e não
verá mais o seu carrinho de mão. Chamará pela companheira, que já
tem uma cuia na mão, e fará um leve movimento com o queixo
mostrando o estrago que ficou. Nem vai procurar por ferramentas, por
galinhas nem pelas cabras. Saberá que, naquela noite em que nem o
diabo ousaria sair de casa, Santolin o visitou. E pedirá um mate. E
vai sorvê-lo lentamente enquanto pragueja alguma coisa.
Para
Santolin não importa se for compadre, parente ou amigo de longa
data. Quando o caos se estabelece, quando ninguém sai à rua, ele se
torna um bicho, enfrenta tudo o quanto pode, junta todas as suas
forças e sai cortando o vendaval para uma visita aos colonos.
Dizem
que ele leva tudo. Tudo não. Só deixa os cães. Respeita os amigos
que nunca o denunciam.
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