09/02/2017

Velho Museu

Museu do Índio-RJ/ /Arte sobre foto
Bem-vindos aos novos tempos. É tempo de opinião. Vale aquilo que se pensa. E, de preferência, se tu pensares como eu penso. Se compartilhares o que posto. Se curtires as minhas verdades. Os fatos? Às favas com os fatos. Entre os fatos e as opiniões fiquemos com as opiniões porque elas variam e os fatos não. Elas apresentam a beleza do movimento. A inquietude do subjetivo que pode mudar amanhã, depois ou sempre.O juiz apontou pênalti. Não importa que tenha sido. Importa nada se o zagueiro, malandramente, tenha cutucado o avante pelas costas, jogando-o ao chão. O que mais conta é que, nos tempos do primário, o juiz, que era ruim de bola, disse para alguém que torcia para o colorado. Isso é o que importa. Assim, hoje, se ele marca um pênalti não é porque seus olhos viram, porque sua perspicácia, treinada por anos a fio com um apito na boca, tenha alertado para a infração. Nada disso. A verdade é que sua decisão foi tomada muito antes. Foi tomada quando nasceu. E não poderia ser diferente.
A mulher morreu. Não importa que tenha sofrido. Nem que seus órgãos tenham falido por cansaço, por desilusão, por vergonha. Importa o que se acha. O que se considera como certo. E, para levar ao mundo esta verdade, é justo, é necessário que se exponha aquilo que parece significativo. Nem que sejam as entranhas da mulher. A morta morreu porque não deveria viver. Talvez não devesse nem ter nascido.
O homem governa. Não importa que seja de uma gangue. Não interessa que tome medidas que firam a saúde dos corpos e das almas. Pouco importa. Importa que ele governe e não o outro, que é digno de ódio. Que morram todos os odiados. E que governem os meus.
Bem-vindos aos tempos da opinião. Aos tempos em que os fatos não interessam. Aos tempos em que as versões e as verdades estão nas bocas e nos corações, nos computadores e nos smartphones de qualquer um que se digno.
Os fatos? Quem se interessa por eles? Que valor terão se o que importa é a verdade construída pela interpretação? E se o sábio calou, porque só ele aprecia o silêncio, e o atávico gritou, valeu o grito que os ouvidos percebem e as bocas reproduzem.

As opiniões ecoam na rede. Os fatos são quadros pendurados em uma parede de um velho museu fechado para o grande público.

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