29/05/2017

Pílulas de Felicidade

A vida ideal é aquela das redes sociais. Sorrisos, festas, viagens, jantares com amigos e algum espumante para relaxar porque ninguém é de ferro.  O amor está no ar. É proibido deprimir. A palavra de ordem é felicidade. A imagem diz tudo: “todo o mundo está feliz aqui na Terra”. Sem frustrações. Sem desânimos.
A imagem de felicidade difundida com exaustão nos meios virtuais passa muito longe da realidade vivida por quase a totalidade das pessoas. Segundo algumas pesquisas, esta falsa imagem retroalimenta a frustração dos inveterados navegadores. A inveja boa é ficção. Inveja é inveja e pronto. Inveja  é inveja sempre. E o quê resta para quem está dando duro nestes frios e chuvosos enquanto algum amigo está se refestelando  nas zonas mais quentes do planeta? Dou-he uma, dou-lhe dia, dou-lhe três...
Alguns estudos sérios sobre  o comportamento humano apontam que esta competição para ver quem é mais feliz nas redes sociais é algo extremamente pernicioso. O primeiro sentimento que surge é o da inveja. E os amigos do amigo vão alimentando esta bolha de sentimento negativo mesmo que curtam a selfie e façam comentários fofos. Hipocrisia já nasce com o indivíduo. Não há na farmácia.
Por falar em farmácia: dia desses uma matéria jornalística, de autoria de Cleidi Pereira, dizia que há quatro vezes mais estabelecimentos deste tipo em Porto Alegre do que o recomendável. Há uma verdadeira overdose, diz o jornal, concluindo que há mais farmácias do que cafeterias nos grandes centros.
Os farmacêuticos dizem que é sinal de que a classe média está se preocupando mais com a saúde e que tem acesso facilitado aos diagnósticos.  Porém, há aqueles que apontam o total descontrole envolvendo uma engrenagem complexa de médicos, laboratórios e pacientes. O psiquiatra norte-americano Allen Frances, autor do livro Voltando ao Normal, aponta que crianças e adultos tomam mais remédios por conta do crescente aumento do interesse comercial pelos laboratórios. 
Ora, remédios podem auxiliar na cura. Mas, são também venenos. E o limite não deve ser fixado com os olhos no lucro do laboratório, mas na saúde do paciente.   Para a  escritora  Márcia Kedouk, autora do livro Tarja Preta "muitos dos nossos males não são tratáveis com comprimidos e a medicalização cria uma ditadura da felicidade. Todo mundo precisa estar sempre bem e feliz. Acontece que sentimos dor e tristeza, ansiedade, medo e desânimo. Faz parte da natureza humana e nem sempre requer um remédio”.              
A felicidade não está dentro de uma drágea nem numa postagem nas redes sociais. Fosse assim seria fácil demais. Sem suor nem inspiração. Pílulas de felicidade ainda não existem à venda. Nem nas melhores casas do ramo.

                               

Nenhum comentário:

Postar um comentário