20/09/2017

Nossas façanhas

Gaúcho, na visão de Debret, século XIX
Houve um tempo em que boa parte do povo gaúcho desfilava com muito orgulho e animação. Aos olhos dos que aqui viviam, este pedaço de terra parecia destoar decisivamente do que se via nas estância localizadas acima do Mampituba. Era comum que se sentisse certa pena do pessoal lá de cima, eis que foram privados do paraíso. Repetiam-se, com alguma exaustão, nos encontros classistas que o Rio Grande detinha a melhor polícia, o melhor judiciário, os melhores políticos e assim por diante.
Alguns afoitos, talvez impulsionados pelos sentimentos de superioridade e pelo ímpeto de gabolice que sempre imperou por aqui, sentiram-se atraídos pelas teses separatistas. Há algumas décadas movimentos como o Sul é o Meu País eram levados a sério. Santa Catarina e Paraná não se entusiasmaram tanto. Os gaúchos ficaram tentando incluí-los sem sucesso. Enquanto isso, os dois estados vizinhos avançaram e a gauderiada ficou para trás. Teve, como se diz popularmente, um crescimento de rabo de cavalo: para baixo.
Hoje se sabe que as bravatas vão ficando para trás. Alguns de nossos políticos estão no meio da lama tanto quanto nordestinos, paulistas e mineiros. Os salários dos servidores públicos, baixíssimos em relação aos demais estados, vão pingando em pequenas parcelas na conta negativa do banco estatal. Dar calote e pagar juros virou coisa rotineira acabando com a estima e com a saúde de quem trabalha nos serviços do Estado. Se o patrão não paga o empregado não tem como pagar. E as lojinhas vão fechando porque não vendem. E o ICMS vai minguando, e, com isso, os municípios têm menor retorno reduzindo, por absoluta necessidade, o número de consultas no posto de saúde, de exames laboratoriais, parcelando os salários de seus funcionários etc etc etc.
O orgulho e a vaidade foram para as cucuias. Professores em greve, escolas paradas, tudo à lá meia boca. Para muitos, o que resta é compartilhar uma mensagem fake do Arnaldo Jabor, onde o antigo cineasta e hoje colunista no centro do país, elogia o modo gaudério de ser desfilando pérolas como essa: "Gaúcho que se preze já nasce montado no bagual (cavalo bravo). E, antes de trocar os dentes de leite, já é especialista em dar tiros de laço".
Como o elogio de Jabor não tem origem em nenhuma página assinada por ele, é mais do que provável que seja mais um desses embustes que crescem na internet. Não é preciso muito talento nem uma inteligência aguçada para crer que o referido elogio foi escrito por algum gaúcho ainda saudoso dos tempos em que os CTGs eram tidos como a grande expressão cultural do nosso povo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário