16/08/2019

O Certo e o Errado


As expressões certo e errado carregam uma aura de objetividade raramente encontrada em outros termos. Pode-se dizer com quase certeza que todas as pessoas sabem exatamente o que é certo e o que é errado. Ou, pelo menos, acham que sabem. No dia a dia, o senso de julgamento leva as pessoas a definirem exaustivamente todas as situações para os escaninhos do certo e do errado. Acostumados estamos a analisar, a sentenciar, a decidir sobre as condutas humanas. Porém, olhando-se com atenção a paisagem que nos cerca e o andar da carroça, nota-se que entre saber o que é certo e o que é errado e fazer aquilo que convém vai uma distância abissal.
Como tudo na vida tem explicação, tenta-se, de algum modo, encontrar uma resposta para este enigma. O certo nasceu na língua latina como certus”, determinando aquilo que é seguro, determinado e garantido. Ou seja, não há muito espaço para variações. Como dirira o poeta “o certo é o certo”. O termo errado também tem como origem o latim. Vem de “erratus” e está relacionado a situações de falhas, imperfeições, desajustes, enganos e inadequações.
Mas, o que ocorreu para que termos tão taxativos experimentassem uma variabilidade estrondosa? Ocorre que o julgamento vai depender da posição em que o julgador se encontra. Se ele, por exemplo, pertence a uma tribo de um dos povos antigos, daqueles que viveram antes da ciência, da tecnologia e dos conhecimentos filosóficos, acharia certo o sacrifício de animais e mesmo de pessoas para agradar aos deuses da produção agrícola e da pecuária. As mortes não seriam em vão, pois são plenamente justificáveis. Quem não quer agradar ao deus todo poderoso que pode dar uma boa safra ou matar o povo de fome?
Os jovens escritores, poetas, jornalistas e advogados brasileiros que se opunham à escravidão de negros africanos no solo pátrio estavam certos. Porém, para os estanceiros e políticos escravagistas os pensadores eram inimigos da pátria. Estavam errados.
Lá nos tempos da inquisição, o clero acredita piamente que a eliminação da heresia com corpos sendo jogados na fogueira para terminar com o inimigo da divindade era coisa certa a fazer. Não havia oposição ou se havia era muito silente. O medo do julgamento impiedoso amedrontava, como era de se esperar.
O certo e o errado, então, são volúveis. Se prostituem facilmente. Vendem-se conforme o interesse, o alcance intelectual, a formação cultural e a vontade do indivíduo. E, nem sempre, este processo se dá por maldade. Muitas vezes o que ocorre é falta de conhecimento e de lucidez.
Por isso que, no momento, carrego comigo o entendimento de que o homem apresenta alguma dificuldade em pronunciar um julgamento justo. Em regra o julgador está comprometido de algum modo o que o afasta dos princípios de justiça. Não falo de juízes nem desembargadores ou ministros das altas cortes, muito embora estes também estejam sujeitos às interferências normais, mas sim de pais e mães, de tios, de avós nas suas relações familiares e de pessoas comuns que usam as redes sociais como válvula de escape para destilar seus ódios ou suas paixões.
Apesar de certo e errado encontrarem-se tão embaralhados, o bem e o mal continuam como termos que pouca alteração apresentam ao longo dos tempos. Mas, isso já é outro papo que bem pode seguir numa outra crônica. Ou não.


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