29/12/2010

O tempo voa

O tempo passa. O tempo voa. Dizia uma peça publicitária do banco Bamerindus, de presença marcante nos intervalos comerciais dos anos 80 e 90 na TV brasileira. A instituição financeira foi engolida nos anos 90 pelo processo de quebradeira, venda e fusões do sistema bancário. O bordão, no entanto, permanece vivo. E, mais do que isso, auxilia no entendimento de algo que já foi de difícil compreensão: a relatividade do tempo.
O tempo passa conforme o nosso ritmo. Contemplativos, diante de uma paisagem relaxante, na praia – acompanhando o vai e vem das ondas; no campo – ouvindo o leve deslocar das folhas respondendo à brisa; o tempo, com certeza, passa de uma forma vagarosa. Envolvido em atividades repetitivas, o dia parece pequeno diante do número de atividades que devemos completar. Aí falta tempo.
Foram anos e anos para que a Ciência contemplasse a relatividade das coisas. O certo é que o tempo não é algo plano. Num templo budista, numa casa onde impera a busca pelo transcendental, o tempo escoa. Na bolsa de valores, onde a busca é pelo hoje, pelo lucro, pelo melhor rendimento possível num espaço reduzido, o tempo voa.
Na vida diária, sentimos o tempo pelo desencadear de ciclos. Enquanto estamos aprendendo a dirigir cada tarefa nova ganha uma dimensão. Trocar de marcha, frear, curva à direita, reduzir, curva à esquerda, pedestre na pista, faixa de segurança. Atento, o cérebro trabalha cada informação nova, armazena cada experiência dando certa impressão de lentidão. Quando passamos a dirigir com destreza, nosso cérebro apaga as informações em duplicata. Passamos, então, a guiar no automático. Atividades como trocar de marcha, dar o sinal, acelerar e reduzir deixam de ser novidade e fizemos tudo sem perceber.  Com isso o tempo parece que passa mais rápido.
Li um estudo onde se propõe que devemos desacelerar nosso tempo. A proposta é boa, por vezes exequível. Devemos, segundo esta teoria, marcar nossa vida fora da rotina. Fazer coisas diferentes, conviver com pessoas diferentes, com convicções religiosas, partidos políticos, atividades profissionais diferentes. Ou seja, juntar no caldeirão ingredientes que não estamos acostumados no dia a dia. 
A teoria vai além. Prega que devemos participar dos acontecimentos ou, dentro do possível, deixarmos a condição de coadjuvantes pela de astros principais. Marcar os nossos dias especiais, aniversários dos filhos, festas, casamentos, vestibular, formatura. Vibrar com a vitória do time. Acompanhar o filho de tenra idade na escolinha de futebol. Explorar um pouco mais nossa capacidade, especialmente os talentos que teimam permanecer escondidos no meio das preocupações diárias. Claro, não dá para jogar toda a rotina para cima e nos transformarmos de um dia para o outro em uma celebridade. Porém, é certo que nossa existência ganhará um sabor especial. E o tempo deixará de ser nosso inimigo. Pelo contrário será nosso aliado.
Logo ali na frente já se fecha um ciclo. O ano de 2014 está dando tchau. Para muitos de nós passou como um raio. Daqui a pouco começamos a lidar com as listas de mudanças que vamos propor para o próximo ano. Desacelerar nosso tempo é uma boa pedida. Mais do que isso é um grande desafio.

  (Texto editado em 30.11.2014)

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