22/12/2010

Os meninos e o tempo

O tempo passa rápido. É o que se diz! Natal, amigo secreto familiar, festa de final de ano, espumante, ceia, fogos de artifício. Verão, Carnaval, início de aulas para a garotada. IPVA, IPTU. Quando se vê, lá se foi o verão, as frutas amadurecidas começam a dar o ar da graça. A brisa dá lugar, lentamente ao frio, que vai aos poucos se tornando mais intenso. Inverno, chuvas e mais chuvas, ventos e mais ventos. Primavera, flores, dias mais longos. O sol aparece com mais decisão, enterrando os finais de tardes sombrios e encasmurrados. Dia da Pátria, do Gaúcho e, num passinho os papais noéis, que pareciam aprisionados, partem desfilando pelas ruas de Gramado e Canela. Invadem a cidade, a tevê, os jornais, tomam de assalto todos os espaços possíveis.
Esta percepção de que o tempo avança cada vez mais rapidamente, é um sentimento atual. Num passado não muito distante, na nossa infância, por exemplo, as tardes de verão e de inverno eram infindáveis. Inventávamos inúmeras artimanhas para enfrentar os calorentos verões e suportar o imponente frio. As que mais apreciávamos eram as tardes de sol. Banhos em açudes de águas barrentas, infestados por sanguessugas, depois de uma pescaria infrutífera. Longos colóquios da turma embaixo de alguma árvore frondosa. Um ki-suco qualquer, de uva ou morango, doado por alguma mãe diligente. Quente é verdade, porque gelo naquele tempo era um artigo de luxo.
No fim de tarde, quando os raios solares já não incidiam com tanta gana, uma providencial bola, cheia ou murcha, de plástico ou de couro, quase sempre velha, dividia a gurizada em dois exércitos que se engalfinhavam em jogos de meia-linha, de três dentro-três fora, em jogos de pênaltis em dupla ou individual, em dois toques. A lua por vezes testemunhava a contenda. Pés descalços, verdes da rala grama, perfurados pelos espinhos de roseta ou de algum maricá perto de onde a bola insistentemente caia. 
No melhor do jogo, quando a decisão se tornava eminente, quando os exércitos extenuados armavam suas últimas estratégias, eis que um berro, o temível berro, impunha um ponto final à disputa. “Juninho, já pra casa!”. Lá ia Juninho, lá ia a bola, lá ia nosso jogo. Fim de papo. Ao voltar para casa, pouco do dia sobrava. Um banho, um café ou alguma coisa que havia sobrado do almoço.  E boa-noite, que amanhã tem mais! Se Deus quiser!
O tempo escorria, assim. Dias de molecagens. Preocupações, poucas. Talvez a grande preocupação fosse que o Juninho se ausentasse. Um ou dois dias já era tempo para bater a saudade. Da bola, do berro da mãe do Juninho. 
Natal, Ano Novo, Páscoa, feriado. Emendávamos tudo. Tirando o compromisso das aulas, o resto eram férias. Naqueles tempos, vivíamos gozando férias e não sabíamos. 
A percepção do tempo muda com os anos. Com as múltiplas atividades que aprendemos a desenvolver, o relógio nos coordena. O tempo passa e nem sentimos. No fim do dia, faltam horas para tanta programação. O Natal está aí. Já na semana que vem o calendário perde uma folhinha. Outra virá. 2011 está chegando, rápido, tão rápido quanto Juninho quando deixava o nosso campinho de jogo, atendendo ao berro da mãe. 
O tempo passa lentamente para os meninos que armam seus exércitos em um campinho de futebol!        

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