06/07/2011

Moral da história

Esopo
(Diego Velásquez)
Hoje, na velocidade em que o mundo das comunicações se movimenta, pode parecer impossível que a tradição oral tenha sido a responsável pela difusão de algumas ideias tidas como grandes verdades que nos chegam até os dias atuais. E o mais incrível, ainda, é que três grandes responsáveis por isso podem nem mesmo terem existido.
Assim, o Grande Sócrates não passaria de um personagem criado pelo filósofo grego Platão. Da mesma forma o sábio chinês Lao-Tsé, guardião da biblioteca do império, que teria ditado os versos que originaram o Tao-Te-Ching, base do Taoísmo, também seria um mito. Outro nome respeitado,criador do gênero da fábula, o escravo corcunda e desengonçado grego Esopo também é acusado de não-existência. Não obstante as diferenças que os separam, uma característica ao menos os une: suas ideias foram transmitidas oralmente. Suas palavras foram gravadas anos depois por discípulos, pensadores e pesquisadores.
Um tema recorrente na obra ditada pelos citados mestres é a sabedoria. Sócrates preferia problematizar a apresentar uma conclusão acabada, pronta. Não se considerava um sábio. Aliás, acreditava mesmo que sua inteligência era limitada. Entendia que a melhor resposta era uma sucessão de questionamentos daí surgindo o entendimento mais adequado ao nível intelectual do indivíduo. O uso do método, entre outras coisas, contribuiria para a superação dos dogmas e preconceitos. Do alto de seu conhecimento notável humildemente dizia “só sei que nada sei”.
 Da mesma forma Lao-Tsé receita que a fonte da sabedoria humana não está no exterior. Em um dos poemas diz que o homem não precisa viajar pelo mundo para conhecê-lo, lembrando que “o sábio atinge sabedoria/ sem erudição;/alcança a sua meta/ sem esforço;/termina a sua jornada/ sem viajar”. Ou seja, o homem para ser sabido há de ouvir o seu mundo interior. Sem isso, pode atravessar o planeta, sem nada entender.
Já o grego Esopo foi mestre em dar voz aos animais. Segundo consta foi o primeiro a contar histórias misturando homens e animais que dialogavam entre si. Os problemas do relacionamento humano serviam de pano de fundo para suas narrativas. O francês La Fontaine e o brasileiro Monteiro Lobato são alguns dos que admitiram sua influência. Suas histórias, no entanto, são de conhecimento público e repetidas a exaustão sem que a origem seja destacada. Entre as mais conhecidas estão a corrida entre a lebre e a tartaruga e a raposa e as uvas.
No entanto, há uma que é atualíssima, e diz o seguinte: um homem muito pobre encontrava-se na porta da morte. Os médicos já o haviam informado de que não eram necessários outros sacrifícios, eis que sua morte era questão de horas. O homem prometeu aos deuses o sacrifício de cem bois e a construção de um monumento se se restabelecesse. Sua mulher, ao seu lado, pergunta-lhe de onde tirará o dinheiro. Ao que ele responde, “você acha que vou me restabelecer para os deuses me cobrarem essas promessas?”.  Moral da história - é fácil prometer quando sabemos que não vamos cumpri-las. Sapiência que abunda entre os políticos pátrios.
Detalhe importante, os mestres Sócrates, Lao-Tsé e Esopo, viveram (ou não) entre 600 e 400 anos a.C. 



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