05/04/2012

O medo da morte

O ex-presidente Lula, que passou recentemente por problemas de saúde, tem medo da morte. Disse há alguns dias que se ela estiver em algum lugar na China, ele estará anonimamente em algum lugar da Bolívia. Buscará esconderijos insuspeitos para privar seu corpo da finitude indesejável. Ou seja, deseja guardar bom distanciamento do evento inevitável que colocará fim à sua existência.
Ele não está só. A morte sempre representou para os homens o fim de tudo, o ocaso dos sonhos e das alegrias. A imagem mais difundida que se tem dela é a de uma senhora de cabelos desgrenhados, vestida de longa e larga roupa negra, com capuz cobrindo seu rosto descarnado, carregando em uma das mãos uma ceifa, aguardando pacientemente o exato momento de executar sua colheita.
O que assusta muitos, como o eminente político, talvez seja a possibilidade de que sejam  esquecidos. E, especialmente para um homem público, não existe nada mais sofrível do que o esquecimento. Neste quesito até certa razão o assiste. Nossa cultura capitalista estabelece que quem produz vale alguma coisa e os outros de algum modo representam um peso à sociedade. Isto justifica, inclusive, o tratamento desprezível que os nossos aposentados recebem, saindo da vida produtiva para a inatividade e daí para a morte simbólica do esquecimento. Os vencimentos vão minguando, o poder de compra baixando cada vez mais. Justamente quando o indivíduo mais precisa de assistência contata que a aposentadoria o transformou de força produtiva em déficit previdenciário. 
A relação capitalista com a ideia da morte é tão pragmática que está sendo decretada, a priori, a inexistência da vida espiritual. Também pudera, o que vale é a inserção corporal. Um corpo, no ideário do sistema, precisa adquirir coisas, de preferência muitas coisas capazes de revelar seu valor. E dê-lhe roupas para aparecer bem aos olhos dos outros, cremes para retardar o envelhecimento, cirurgias para corrigir o que a natureza não se preocupou em aperfeiçoar, coisas, coisas e mais coisas.
O sistema exige pressa. Consumo, consumo e consumo. Pensar leva tempo. Debater é pior ainda. Então se sepultam as ideias que parecem mais complicadas. A mais simples delas, a morte como fim, vence a parada. Simples assim, sem choro nem vela. Morreu, babaus!
Porém, o homem é complexo. A solução simplória aceita num momento, vai se desconstituindo ao longo do tempo. No seu íntimo, o homem reluta em crer que tudo acaba quando seu corpo perde a energia. A própria Ciência, depois de ignorar de maneira peremptória o assunto por séculos, avança no estudo. Questões como a sobrevivência do espírito deixaram o campo da fé (Espiritismo, espiritualismo, Budismo entre outros) e invadiram laboratórios científicos. Um dos estudos mais significativos foi protagonizado pelo professor S. G. Soal, da Universidade de Londres, que formulou a hipótese científica da sobrevivência da alma. Outros, em outras partes do mundo, fizeram o mesmo. A partir de 1965, físicos e biólogos soviéticos obtiveram provas concretas (fotografias e visão através de aparelhos óticos especiais) da existência do perispírito, que deram o nome de corpo bioplástico.
Lula não passaria por tanta angústia se pensasse um pouquinho além da glória conquistada por aqui. Se não tivesse tanta pressa, talvez visse mais e melhor. Se continuar sempre no mesmo caminho, sua luta será inglória, pois a morte chegará um dia, mesmo que ele se esconda no interior do interior da Bolívia. Como diz a poesia de Helena Colody: 

"A morte espreita, em silêncio
O vivo jogo dos homens
No tabuleiro do tempo.
Estende, às vezes, de repente,
A longa mãeita de sombra
E tira um peão do tabuleiro."

Melhor pensar na existência do amanhã! 


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