30/03/2011

A magia dos bolinhos de chuva

É um despropósito o que tem chovido neste início de Outono. Quem aguardava algo como um prolongamento do Verão, enganou-se. O tempo mais parece o Inverno, com seus dias chuvosos e frios.
E a chuva me remete a um tempo de tardes vazias. Uma verdadeira tortura. Com a chuva presente, nada de atividades na rua. Os amigos de bola, de diversão, de traquinagens, permaneciam inertes em suas casas. As mães não permitiam qualquer incursão à rua. Com sete, oito ou nove anos, entendiam que era necessário o resguardo. Restava-me a pequena janela, de onde observava um mundo onde a atividade mais vibrante era a dos pingos de água caindo e formando poças no nosso campinho. Até os cuscos se escondiam nos dias de chuva.
Dia chuvoso era sinônimo de recolhimento. Sem futebol, sem passeio, sem atividade externa. Desprovido da tecnologia da televisão, muito onerosa para orçamento tão esquálido, era no rádio que encontrava um contato com o mundo exterior. Porém, que não houvesse raios e trovões. Se isso ocorresse, o rádio devia ser desligado. Acreditava-se que se estivesse ligado poderia atrair um raio e uma tragédia.
O pós-chuva, porém, era delicioso. A tristeza do confinamento caseiro era suplantada pela liberdade da rua. Ainda com o chão molhado, era permitido sair de casa. Cruzar por poças "acidentalmente" era uma diversão e tanto. Alguns faziam até competição de saltos. Invariavelmente caia-se no meio da água. Quando secava, os meninos corriam com seus arquinhos metálicos, tocados por uma vara com um arame na ponta. Eu mesmo era um craque na condução do arco. Ou melhor, talvez nem tenha sido tanto assim!
O tempo passou e os dias de chuva não têm o mesmo sabor. Os compromissos nos empurram para a rua, muito embora a vontade talvez seja de ficar em casa. Desta vez, porém, não contrariado. Nos dias chuvosos, nas grandes ou pequenas cidades, o trânsito é sempre mais complicado. Há mais nervosismo no ar. Os carros de deslocam com mais velocidade. As manobras nem sempre são as mais corretas. Parecem seres querendo se esconder da chuva. E aí as barbeiragens aparecem com mais força e vigor.
Apesar dos transtornos causados pela incidência de grandes volumes de chuvas, não há como se negar os seus benefícios. A água é sinal de vida. Sem ela e o Planeta Terra será uma esfera sem povoação, sem verde, sem vida.
É necessária, também, outra homenagem ao dia chuvoso. Talvez um quadro de aconchego de uma cozinha quente, na frente de um fogo que não devia ser apagado como forma de conter o frio e, ainda, diante da incidência de uma insistente chuvinha, possa ter proporcionado todos os elementos inspiradores para o descobrimento de uma fórmula de uma das iguarias mais saborosas que se tem notícia. Não fosse a chuva e a criatividade da vovó não teria sido inventado o bolinho frito, aquele chamado apropriadamente de bolinho de chuva. E bolinhos de chuva, com canela e açúcar salpicados aleatoriamente, acompanhados de um cafezinho no final da tarde, tornam qualquer dia chuvoso em um dia muito especial.

*Por sugestão da minha amiga Jaciane posto link com receita de bolinho de chuva. Clic aqui e aproveite.

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