07/04/2014

Era frustrada

A cidade pacífica onde os moradores deixavam os carros abertos, onde os muros eram meramente decorativos e as pessoas sentavam na calçada para compartilhar um mate, é coisa do passado. São imagens antigas como aquelas velhas fotos que vão perdendo as cores e o brilho. A passagem do tempo tem sido cruel com os costumes provincianos. O que se vê hoje, em qualquer cidadezinha interiorana é o crescimento cada vez mais intenso no uso dos aparatos de segurança. Cercas, muros, câmeras, seguranças particulares. Adeus conversa de vizinhos sobre a cerquinha de madeira.
Aquilo que era realidade nos grandes centros há décadas, agora faz parte do dia a dia das médias e pequenas cidades brasileiras. Até nos interiores do interior, a preocupação com a segurança tem crescido sobremaneira.
Não é um dado científico, mas não é difícil concluir que esta mudança nos costumes em muito é determinada pela proliferação do consumo de drogas. Mesmo que o progresso, a infraestrutura básica como redes de esgoto, de recolhimento de lixo e iluminação pública, ainda não estejam presentes em cantinhos afastados, hoje ali já há registros de consumo de drogas como o álcool, o crack e a maconha, que são mais populares.
O consumo, como se sabe, vai criando um círculo inevitável que leva o dependente a cometer pequenos furtos para garantir a posse da droga. E o círculo vai se abrindo, gerando instabilidade no meio, preocupação e medo. A insegurança vai crescendo cada vez mais.
O fenômeno da expansão silenciosa do consumo de drogas, especialmente do crack, que é altamente destrutivo, parece que pegou as autoridades da saúde de surpresa. Hoje se vive, mesmo numa cidade pequena como Osório, uma verdadeira epidemia, especialmente nos bairros onde reside a camada da população de menor poder aquisitivo.
Junte-se a tudo isso, o despreparo da rede pública para atender este pequeno exército de zumbis, meninos e meninas esquálidos que caminham pelas ruas da cidade sem destino, alimentados tão somente pela fumaça de seus cachimbos. Ao que consta, são poucas as iniciativas realmente eficazes para a superação do problema.
A partir disso tudo, se assiste a uma verdadeira guerra pelo domínio de territórios, algo quer se via somente nos antigos filmes de Hollywood, onde poderosos chefões abriam fogo contra seus oponentes com o objetivo de ampliar seus negócios.
E desta forma chegamos e vivemos, segundo muitos, em plena Era de Aquarius. A sonhada era da virada, quando finalmente haveria mais paz e mais compreensão entre os homens. Onde todos irmanados, respeitando suas diferenças, viveriam em harmonia. Um sonho. Um belo ideal. Um momento especial que tinha tudo para frutificar.
A realidade, no entanto, mostra que nem sempre as boas ideias são capazes de comover a todos. Os belos sonhos ficam, não rara vezes, circunscritos ao mundo idealizado. Desta forma, passadas alguma décadas,  o panorama que se vê deixa muito pouco espaço para o pensamento poético e para as imagens de superação das barreiras individuais. A insegurança, o sofrimento e o medo ainda persistem com muita força suplantando de forma sutil os costumes de um passado ingênuo. 
Quem sabe não estou delirando?

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