09/07/2015

Conversa fiada

Iniciar uma conversa fiada é uma das tarefas mais fáceis. Basta que se jogue aleatoriamente ao céu algum assunto. Qualquer um. Sério, como a crise na Grécia; divertido, como a repercussão na rede social de alguma baboseira qualquer; científico, como a múltipla existência dos seres e seus processos de aperfeiçoamento ao longo das etapas vivenciais ou o insuperável chavão masculino sobre o desempenho dos times do Estado na tabela do Brasileirão. Enfim, se a inspiração for por demais rasteira, basta que se lance mão do velho e surrado tempo. Vai chover? Vai parar de ventar? Como o tempo passa depressa, né? Parece que foi ontem que o ano começou, não é? E a semana? Passa sem que a gente sinta. Mal termina a música do Fantástico e já é sexta-feira. Parece que tudo está correndo. Não se nota o dia passar, a semana, o mês e o ano.
Alguém que, por ventura vai passando por ali, interessado no assunto que pescou no ar, valendo-se de seus conhecimentos filosóficos pode mesmo dizer: “o tempo não existe”. E emendar outras assertivas complexas, porém lógicas. “O tempo é mera abstração. É uma invenção humana. Vivemos todos uma realidade fictícia, virtual. Criamos o relógio para aprisionar o tempo. Porém,  ele foge, ele não se contém, ele não respeita nossa vontade”.
A conversa fiada não requer métodos. Vale perguntar e responder, vale indagar coisas desconexas na mesma conversação. Enfim, tudo tem algum sentido no aparente caos.  Ela é sedutora. Pode mesmo vencer o limitado círculo imposto pela geografia. Não é incomum que a conversa fiada de um grupo avance e ganhe vida. E conquiste outros adeptos, até então imunes ao blá-blá-blá alheio.
Pensando melhor: uma conversa fiada, iniciada assim de maneira despretensiosa com o sutil objetivo de distrair o tempo, de romper o silêncio ou preencher o vazio, na realidade, pode derivar sim para outro terreno. Este mais denso e mais sério.  Basta que passe por ali um destes apaixonados pelas questões filosóficas, espirituais ou transcendentais, que levam a sério até mesmo  singelas fórmulas antigas como “como vais?”, “tudo bem?”.
Aí, já é outra conversa. Deixa de ser uma simples conversa fiada para se transformar numa conversa afiada. 

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