04/07/2015

A Ira

No princípio, as redes sociais tinham como objetivo conectar as pessoas. Assim, através de meia dúzia de pesquisas descobriam-se colegas de ginásio, vizinhos antigos que tinham partido e não davam mais notícias há anos ou décadas. Talvez um antigo amor que se perdeu no tempo e no espaço. Membros da família que tinham se desgarrado. Foi uma verdadeira revolução de costumes. Era a descoberta de uma ferramenta de fácil utilização. O finado Orkut, que durou 10 anos, foi a pré-escola das redes sociais. Compartilhar fotos da infância e os acontecimentos mais marcantes da semana era o que se queria. Assim, a rede era pouco mais que um álbum de fotos. O ápice foi a criação de comunidades com seus nomes e objetivos estranhos. Sem contar na possibilidade de manter uma agenda atualizada com os aniversários dos amigos mais próximos e dos nem tão próximos assim.
Os tempos hoje são bem outros. É claro que muitos se valem das redes atuais no mesmo intuito do primitivo Orkut. Desejam encontrar pessoas, estabelecer contatos, compartilhar seus momentos mais felizes e, em alguns casos, expor suas lamúrias, suas contrariedades e estranhezas. 
Porém, às vezes, o mundo virtual tem se transformado em ringue. O hábito de compartilhar e comentar nas redes sociais pode virar um tormento. Verdadeiras guerras têm se estabelecido por coisas que não são assim tão importantes. Dedos nervosos estão, em muitos desses casos, a serviço da intolerância, da discórdia e de uma boa briga. E o que apimenta o ambiente são as questões relacionadas à religião, à política e ao futebol.
Em relação à religião sabemos que todos os livros sagrados e todas as filosofias de vida pregam com todas as palavras como ponto forte para o crescimento espiritual dos seres a tolerância. Ou seja, aceitar o outro com suas características próprias. A pauleira come solta exatamente porque os internautas se colocam como deuses e do alto de suas sabedorias começam a determinar exatamente o que cabe e o que não cabe. E um bate papo banal vira um caldeirão de xingamentos. E, no final das contas, a raiva vence.
Neste ambiente irado prospera também a intolerância política. Notícias falsas, ódios represados, interesses conflitantes vão gerando intrigas e mais intrigas. Noto que amigos calmos, tranquilos e, aparentemente equilibrados, transformam-se em gladiadores no mundo virtual. Seus dedos lançam mísseis que tendem a eliminar o argumento do outro, transformando a rede social numa guerra desnecessária.
É óbvio que este ambiente bélico faz mal à saúde. Há estudos científicos indicando que estes
comentários irados atingem o humor do indivíduo. Por conta disso, tenho reduzido ao máximo o tempo gasto no mundo virtual. Muito embora seja inevitável o acesso às redes sociais nos dias atuais, ninguém é obrigado a respirar este ar tóxico. Buscar um ar mais saudável é uma obrigação que me imponho.    

Mais sobre o tema:
Estudo sobre expressar raiva
Intolerância nas redes sociais

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