O calmo e silencioso bem que pode guardar dentro de si um
vulcão. Dominado durante o dia, escanteado pelas tarefas improrrogáveis,
abafado pelos afazeres comuns, lentamente vai se mostrando. E,
imperceptivelmente, se prepara para virar o jogo. E é à noite, quando tudo o
quanto é rotina se esconde, quando os sons são raros e o tempo aparentemente
deu uma trégua, que a lavra fervilha. O
estômago esquenta, as pernas parecem pegar fogo. Aí não há sono que apareça Não
há calma e tranquilidade que resistam. De nada adianta contar carneirinhos nem
vacas nem pássaros nem elefantes nem sementes de milho ou de feijão. Não há
criatividade nem técnica que esfrie o calor que vem de dentro, acendendo fogos
que bem pareciam cinzas de um passado tão distante.
O
frenético e agitado, visto assim pelos olhos dos outros, bem que pode guardar
dentro de si um lago de águas límpidas, mansas e pacíficas. E, tão logo saído
das lides diárias, pode fechar a porta de casa e se entregar à tranquilidade
que o transborda. Aí não haverá tempestade que o faça tremer nem ventos que o
tirem do prumo nem surpresas que o tire do rumo.
Quando
a multidão caminha cada um é apenas multidão. Não há um rosto, não há uma
identidade. Há a multidão tão somente. Uma massa uniforme que se move num só
sentido. A soma de todos os que caminham por ali. Porém, o olhar mais atento, identificará que
a unidade não existe. São seres, são indivíduos, são histórias únicas que se
movem. No entanto, sem tempo para dizer “ei, eu sou assim”, “ei eu sou assado”.
O calmo e silencioso que carrega um vulcão dentro de si ou o frenético e
agitado que guarda silencioso lago nas suas entranhas caminham como tanto
outros. A multidão os engole no dia a dia.
A
imagem é clara. Não sei quem disse, mas quem disse isso certamente o fez com
sabedoria: os indivíduos constroem suas máscaras ao longo dos tempos. No
público apresentam o que de melhor produziram. No particular, no entanto, jogam
a máscara de lado e viram vulcões ou lagos, mostram os dentes de raiva ou
impulsionados por um sorriso leve e verdadeiro.
De
algum modo, o dia a dia é um baile de máscaras. E os mascarados caminham para
lá e para cá. E se misturam com a multidão, formando uma só massa. Vulcões e
lagos trilhando lado a lado os caminhos que lhes cabem.
Mergulhei em meio às frases e me tornei um personagem. Gostei demais. Parabéns.
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