05/08/2018

O Medo

Minha mãe não contava histórias de boi da cara preta nem de bicho papão. A vida era dura e ela não tinha tempo para isso. Os tempos eram outros como são sempre outros os tempos que se vão. O mundo era mais simples. Vivia-se com menos. Muito menos do que se tem hoje. Na verdade, vivia-se como dava.
No caso dela, mulher, pobre, cheia de filhos, a vida nunca foi um conto de fadas, da Cinderela ou da princesa. Sempre havia coisas mais importantes a fazer: uma roupa para lavar, um pão no forno assando, uma casa para varrer, alguns filhos para cuidar, buscar água no poço, juntar lenha para o fogão. Assim, não sobrava tempo para ensinar a filharada a ter medo. Além disso, era econômica nas palavras. Não era de muitos rodeios. Porém, quando falava acertava o alvo.
Gostava de repetir aquilo que tinha certeza. Mais de uma vez disse que só tinha uma coisa que ninguém tirava da gente: estudo. Queria dizer educação, cultura, formação, sabedoria. Cresci acreditando nisso. Creio até hoje. Sem educação não há futuro.
 Porém, hoje há muita diversão, muita informação, muitos meios de distração. E pouco base. Pouco conhecimento. Bastam duas, três, quatro manchetes para que se cravem certezas. Todo o mundo sabe tudo. Conhecido comunicador disse certa vez que estudou mais de cincoenta anos e agora aparecem meninos de dez anos ou pouco mais nas redes sociais dizendo discordo disso e daquilo. É a maravilha das redes sociais: a cristalização do “eu acho”, do “eu discordo”. Educação que é bom, nada! Conhecimento é blá-blá-blá, é mimimi.
Alguns dirão que é a democracia, o direito de manifestação etc e tal. Qual nada, ainda não foram derrogadas algumas regrinhas tão comuns na antiguidade, mas que caíram em desuso. Primeiro: quem não sabe deve ouvir primeiro. Segundo: pesquisar em alguma fonte confiável não é feio. Terceiro: depois de ampla análise, aí sim, embasado em algum lastro reconhecido no mundo do conhecimento pode-se dar seu veredito. Observando-se minimamente essas regrinhas, reduziriam-se os achismos e os “discordismos”.
O professor na sala de aula afirma que “Platão concebeu o mundo em duas dimensões: o mundo sensível e o mundo inteligível”. Explica que o mundo sensível é o mundo das ideias, o mundo primitivo de onde surgem todas as outras coisas. Vai além, dizendo que as coisas surgidas a partir das ideias não são perfeitas. Mas sim, cópias imperfeitas das ideias originais. Descreve a importância deste pensamento no mundo da filosofia quando é interrompido pelo aluno: “Professor, nada a ver. Isso é muito confuso. Discordo deste Platão!”.
Ah, minha mãe também gostava de dizer algumas frases prontas, alguns ditados populares. Um deles, que repetia quando a filharada falava sem pensar, era: em boca fechada não entra mosca. Nada filosófico. Mas, vez por outra muito apropriado.



Candidatos – Realizam-se as convenções partidárias para definir os candidatos a presidente, governadores, vices, senadores e deputados. Como disse, não fui criado para ter medo. Porém, ao ler na imprensa determinadas manifestações de possíveis governantes temo pelo que vem pela frente. Afinal, como diz uma das Leis de Murphy: “Nada é tão ruim que não possa piorar”.

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