29/12/2018

Ser feliz é o que se quer


O foco da existência humana deveria ser a construção da felicidade. Não é. A educação formal, por exemplo, tende a se expandir na busca da construção de uma carreira rentável que proporcione uma boa renda para a aquisição de bens. Dinheiro, imóveis, conforto, viagens, boas roupas, uma boa imagem são os ideais de vida, na atualidade. O ideal de vida meio que se confunde com o status de felicidade ostentado nas redes sociais. Ao mesmo tempo que se expande para um lado, o processo educacional se restringe por outro: bem-estar, satisfação, construção de um caminho mais livre e, até certo ponto, despreocupado com os bens materiais e o culto à imagem perdem espaço cada vez mais.
A educação tende a correr cada vez mais em direção ao mercado. Formar profissionais que possam construir carreiras de sucesso é a norma. A competição começa cedo. A busca pelos melhores não poupa ninguém. Algumas décadas depois da implantação deste tipo de filosofia, que prega a luta desenfreada pela vitória profissional, pela carreira que dá visibilidade, status e grana, ocorre uma tímida retração. Ocorre que o mercado está saturado de profissionais competentes e infelizes. Gente que faz o que pensou que era o correto e abandonou seus talentos e seus sonhos porque estavam ligados a coisas que não davam dinheiro.
Não é difícil encontrar matérias jornalísticas e depoimentos de altos executivos que largaram tudo e saíram por aí a fazer coisas simples e prazerosas. Profissionais altamente qualificados que deram uma guinada na vida e decidiram fazer outra coisa, com menos cobrança, menos stress, muitas vezes com ganho financeiro menor, mas com mais satisfação e prazer. A Universidade Federal de Santa Maria, seguindo o exemplo das universidades de Brasília e das americanas Harvard e Yale, recentemente implantou a disciplina de Felicidade e Ética nos cursos da área de humanas. O professor de filosofia Dejalma Cremonse, destaca que “não é possível ensinar felicidade”, acrescenta que “são vários os conceitos que podem ajudar para construção de uma vida melhor”. Lembra que a disciplina não tem conotação religiosa nem ideológica. “Cada um tem que descobrir dentro de si quais razões podem tornar o indivíduo mais feliz”.
O professor destaca que a felicidade está nas coisas simples, e que a correria de todo o dia cria uma cortina que impede que as pessoas percebam isso. Os estudantes, em geral, procuram um curso que dê bom retorno financeiro, mas, com o tempo, acabam abandonando os estudos ou trocando de curso, pois percebem que não gostam daquilo ou seguem o impulso e a pressão familiar.
Muito embora, religiosamente exista uma norma, um decreto que estabelece peremptoriamente que “a felicidade não é deste mundo”, estando ela reservada a outras esferas menos acessíveis ao homem comum, sempre é positivo que o indivíduo ao menos busque dias melhores na sua existência. A referência mais antiga sobre a busca da felicidade é encontrada em Tales de Mileto, filósofo grego, que viveu sete séculos antes da era Cristão. Para ele, “feliz é quem tem corpo são e forte, boa sorte e alma bem formada”. Acreditava Demócrito de Abdera (460 a.C./370 a.C.) que a felicidade era “a medida do prazer e a proporção da vida”. Para ele, o homem precisava deixar de lado as ilusões e os desejos e alcançar a serenidade. A filosofia era o instrumento que possibilitava esse processo.
Falar de filosofia e não recorrer a Sócrates soaria quase como um pecado. E não estamos aí para cometer este deslize. Então, na visão socrática, ela não se relacionava apenas à satisfação dos desejos e necessidades do corpo, pois, para ele, o homem não era só o corpo, mas, principalmente, a alma. Assim, a felicidade era o bem da alma que só podia ser atingido por meio de uma conduta virtuosa e justa”.
Muitos outros vieram depois e se ocuparam do estudo da felicidade propondo variações maiores ou menores conforme a visão da existência humana e dos propósitos de cada ser. Por incrível que pareça, nestes tempos em que as bocas e as mentes quase que automaticamente enviam mensagens de felicidades pela passagem do tempo, pouco se pensa na dificuldade que a humanidade vem encontrando em construir caminhos mais simples para atingir um estágio de mais satisfação, mais harmonia, maior plenitude, mais paz e mais felicidade para todos os que se encontram por aqui neste momento.

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