20/06/2019

Questão de Tempo



Não restam dúvidas de que os ciclos duram menos nos dias de hoje. Sinal dos tempos: tudo, nos dias que se seguem, movimenta-se num ritmo mais acelerado. Tudo é muito rápido. Alguns dizem que a percepção do tempo vai mudando conforme o número de tarefas e o envolvimento que se tem. Como estamos todos - querendo ou não-, conectados, alguns quase escravizados a aplicativos de mensagem, nem se nota que os minutos correm como um atleta queniano na maratona. E assim apressados seguem-se as horas, os dias e as semanas.
Uma notícia, uma imagem, um meme, uma postagem prosaica, uma bomba ou uma bombinha com ímpeto atravessam o mundo em segundos. Num passado muito recente não era assim. A vida era mais lenta. As coisas demoravam mais. As novidades envelheciam até chegar nos cantões mais distantes.

No futebol este fenômeno é flagrante. Os meninos daqui nem chegam mais a conquistar os corações dos torcedores nativos e, depois de meia dúzia de gols ou de algumas centenas de passes certos, vão desfilar seu talento nos gramados europeus. Precisam sair daqui para serem vistos, para serem notados, para serem selecionáveis. Coisas de mercado, de grupos empresariais e, talvez, de recursos financeiros que correm para lá e para cá enchendo contas bancárias de gente insuspeita e respeitável. Apesar do tamanho do negócio, que, em regra, gira sempre na cada dos milhões de euros, alguns desses rapazes quebram a cara. Não se adaptam à falta de feijão e de arroz, do churrasco da galera e, especialmente, dos amigos que aqui ficaram nas animadas rodas de pagode ou ainda, nas baladas sertanejas.
Na política o negócio não é menos rápido. O eleito, em regra, também investiu alguns milhões. Mas, dinheiro não é problema. O processo é rápido. Uns minutos na tevê, alguns robôs distribuindo notícias louvando o candidato e detonando os oponentes com notícias inverídicas e está feito o negócio. Como tudo é muito rápido, rápida também é a resposta que se espera do candidato agora governante. Não obstante, o escolhido, o ungido, o salvador vê-se diante de uma grande enrascada. E pode mudar de status também velozmente. A voz do povo que representava há meia dúzia de meses a voz de Deus pode emudecer diante da falta de ação ou, ainda, de ações desastradas. Não é necessário muito tempo para a esperança virar desencanto e o salvador mostrar-se incapaz de salvar alguma coisa.
Analisando sem paixões e sem medo de errar, vejamos o exemplo do super juiz que virou super ministro. Chegou lá com pompa e circunstância. Foram poucos meses de fritura e sabotagem no seu próprio grupo de governo, algumas espinafradas do Congresso e meia dúzia de diálogos jogados na rede e o super juiz virou infraministro. De salvador virou um peso. De indispensável virou uma peça que pode ser descartada logo ali. Deixando de lado os apaixonados e milicianos, resta pouca credibilidade. Se as mensagens foram ou não colhidas ilegalmente, isso nem mais vem ao caso, afinal o próprio infraministro usou deste expediente não faz muito.
O ciclo é rápido. Rápido demais. Os fantasmas do passado, porém, vivem seu próprio tempo. Vez por outra podem dar as caras. Nos dias de hoje usam os mesmos meios que nós todos. Às vezes são arquivos que não foram apagados, imagens que se perpetuaram e diálogos que não deviam ser ouvidos por terceiros. Os fantasmas perseguem os afins. Nunca os outros.

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