06/11/2019

A Sabedoria Primitiva

 Os humanos e os macacos têm muito em comum. Lá nos anos 70 alguns cientistas chegavam a afirmar que os fatores genéticos, a partir dos estudos do DNA dos humanos e dos macacos, coincidiam em 99%. A informação foi um estrondo. Afinal, o número demonstrava que pouca coisa diferenciava as espécias. No entanto, outros estudos foram realizados nas décadas seguintes com equipamentos mais precisos, utilizando-se outros métodos de análise e os resultados foram bem diferentes. Um abismo abriu-se entre os homens e os símios. Este patamar de 99% escorregou para módicos 70%. Um salto e tanto. De qualquer modo, ainda assim registra-se uma grande semelhança entre as espécies.
Se os humanos levam vantagem em inúmeros quesitos, como no uso de linguagem mais rica, estruturada e detalhada, que permite perceber a objetividade e a subjetividade, na fabricação de coisas complexas, na criação de sistemas que viabilizam a vida em sociedade, entre outros, há um que outro detalhe onde os símios batem um bolão.
Não estamos, claro, falando da habilidade específica em pular de galho em galho. Se isso fosse levado em conta, o jogo poderia ser encerrado antes mesmo do apito do juiz. Os macacos são imbatíveis. Me refiro à capacidade em tomar decisões distintas da usualmente experimentada. Segundo pesquisadores da Universidade de Psicologia da Georgia, os macacos Rhesus e Capuchinhos apresentam certa tendência a escolher opções inéditas para resolver os problemas. Assim, diante de uma situação tendem a buscar soluções diferentes. Não optam pela segurança, pelo conhecido, pelo garantido. Buscam a eficácia em opções ainda não tentadas.
Os números impressionam. Segundo a psicóloga Julia Watzek, uma das pesquisadoras, os macacos são mais inclinados que os humanos a tomar caminhos diferentes diante de uma situação que os desafiem. Os dados mostram que 70% dos macacos não hesitam em buscar outras soluções para um problema que se repetiu. Já entre os humanos este número cai extraordinariamente. Somente um entre 56 ousou arriscou uma mudança. Todos os demais seguiram com a opção conhecida e testada. Mesmo depois de apresentado um vídeo mostrando outras formas de resolver o problema, ao menos 30% dos homens ainda permaneciam na opção primitiva.
A resposta está na formação de um conceito anterior. Parece existir uma preferência pelo conhecido. O homem, em regra, está preso às soluções já experimentadas. Poderíamos, também, especular que o ser humano busca a segurança e, diante do desconhecido, teme fracassar. Esse fracasso parece mais plausível quando a solução tentada é diferente daquela já experimentada.
A pesquisa por certo dá margem a interpretações diversas. Nos dias de hoje, muito se fala sobre necessidade de mudanças, de alteração de visão de mundo e de abertura para o novo. Boa parte da nossa gente, como se vê, está encastelada. Repete as ações no dia a dia, mesmo buscando resultados diferentes. Com isto dá razão a uma sentença por demais conhecida: “insanidade é desejar resultados diferentes fazendo a mesma coisas”.



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