06/11/2019

Os generalistas e os especialistas


Os seres humanos cultivam múltiplos talentos e aptidões. Todo o mundo é bom em alguma coisa. Muitos carregam habilidades diversas em maior ou menor grau. Exímio jogador de futebol bem pode ter fluência em matemática. Ora, quem disse que um atleta profissional tem, necessariamente, que ser bom só no domínio da pelota? Preconceito arraigado este de que quem é bom de bola não dispõe de outros talentos. O médico dedicado à exaustão na lida com enfermidades, curas e medicamentos bem que pode dominar técnicas artísticas como a pintura, a escultura ou outra dessas coisas que caem bem como um passatempo.
Os animais, por sua vez, são especialistas. Quem não sabe que o macaco é o rei das árvores? Grandes, médios ou pequenos, os símios dominam a arte do equilíbrio e do salto, transformando as alturas em seu chão. São, ainda, os reis da arte do riso, de zoação e da brincadeira. São os palhaços do reino animal.

Na cultura primitiva os animais apresentam importância ímpar. Diferente, por exemplo, do que ocorre na vida atual, onde a pressa e a busca por resultados vai sepultando o conhecimento empírico e natural. O olhar endurecido pouca importância destina a essas especificidades antigas. Hinduístas, budistas e xamânicos, com suas peculiaridades, encontram conexões entre os humanos e os bichinhos.
Assim, a aranha ganha novos ares. Dona de uma habilidade incrível vai tecendo o seu caminho cheio de conexões. O lobo, que é o cão primitivo, é o desbravador e precursor das novas ideias. Sua energia aguça o professor que existe dentro de cada um. Já a coruja, que na cultura popular flertava com o sentimento de mau agouro, destaca-se pela sabedoria, furtividade, silêncio, rapidez nas decisões e visão aguçada. Simboliza o feminino e a intuição.
Entre todos, no entanto, talvez o animal que mais contradições e sentimentos repulsivos carregue é a serpente. Afinal, numa análise religiosa, restritiva e engessada, a serpente é um dos seres mais marcados pela aura negativa. Afinal, foi ela quem apresentou a maçã para Eva e aí deu no que deu. De algum modo é tida como responsável pelas mazelas humanas. Como se vê, vem de longe esta mania de colocar a culpa no outro pelos resultados negativos. Mas, o mais atento bem que pode ter notado que a cobra está no símbolo da medicina, enrolada em um bastão. Não é engano, não. A serpente, na realidade, carrega algo de renovação e de cura. Ela representa a dualidade da doença e da cura, do conhecido e do desconhecido, a existência e a imortalidade.
Generalistas que somos, carregamos nos nossos ciclos características bem específicas. Somos aranhas que constroem as estradas do destino, somos lobos quando ensinamos e vamos na frente, somos corujas quando enxergamos com lucidez. Ah, não nos esqueçamos que nosso corpo vai se renovando, célula por célula em ciclos de alguns meses. Assim como as serpentes, que troca a pela de vez em quando, também somos capazes de cultivar o veneno no dia a dia.
Sorte que, às vezes, desperta o macaquinho que reside dentro de cada um.

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