19/08/2010

O inimigo silencioso

Édson Cardoso
O psiquiatra Édson Cardoso, no sábado passado, em palestra na Câmara de Vereadores de Osório, alertou para um problema social que pode passar despercebido. Ao abordar a dependência química, centrou sua análise na ação destrutiva de uma das drogas mais consumidas na atualidade. Destacou a forma silenciosa como o consumo reiterado de álcool se transforma em uma grave doença, causando uma série de desconfortos ao dependente e à família.
Como é uma droga socialmente aceita, o álcool vai aos poucos ganhando importância na vida das pessoas. Usado como forma de soltar o indivíduo, de facilitar o contato entre as pessoas, como elemento agregador, ao longo do tempo vai se constituindo num inimigo implacável.  Este processo é construído lentamente. O álcool, que entra para embalar a festa, perde o seu aspecto alegre, sua função pode mudar radicalmente ao longo do tempo, tornando-se um inimigo poderoso, pois pode tomar as rédeas da vida humana. O homem, dependente, vai perdendo o controle e começa a dedicar mais e mais tempo ao vício.  Sem notar, o indivíduo perde a autonomia e se desfaz de coisas que até então eram importantes, como o trabalho, a família e a boa convivência.

O que mais chama a atenção é o período de viciação. Enquanto o crack é devastador desde a primeira vez, o álcool é lento. A formação do vício se arrasta ao longo do tempo, podendo levar até uma década para se efetivar. O indivíduo e os familiares convivem com dissabores, com desarmonias constantes, mas não estão ainda focados no elemento causador das dores. O caráter silencioso é, talvez, o mais sórdido, o mais preocupante deste vício. Ele se instala sem muito alarde, sem muito alarido, mas causa dores enormes.
Não se pode afirmar que a saúde pública tem negligenciado na abordagem da questão. Porém, ela não é tão incisiva quanto a do cigarro, por exemplo. As cervejas ainda patrocinam boa parte do horário nobre da televisão e estão associadas, contraditoriamente, aos esportes. Com se a bebida impulsionasse o sucesso dos astros do futebol. E isto não ocorre. Pelo contrário, todos nós sabemos de um ou outro exemplo de ex-atleta que jogou sua fortuna fora quando encerrou a carreira e caiu nas malhas do consumo exagerado de álcool. 
É verdade que nem todos aqueles que consomem bebidas alcoólicas hão de adquirir o vício. Há uma predisposição genética e até mesmo espiritual, como destacou Édson Cardoso. Alguns indivíduos convivem com o consumo moderado, sem danos aparentes e sem o drama da derrocada que o álcool pode causar. Conseguem certo equilíbrio, não perdendo as rédeas da existência.
De qualquer sorte, é importante que nos lembremos deste inimigo silencioso que chega trazendo alegria e satisfação, anunciando bons humores e relaxamento e que pode, ao longo do tempo, arrastar o indivíduo e família para a estrada do sofrimento. É apenas um alerta como tanto que ouvimos por aí.  Afinal, quem de nós não têm acesso fácil a esta droga tão presente e valorizada no meio social?  

Nenhum comentário:

Postar um comentário