26/08/2010

Quer um conselho?

“Quer um conselho? Se eu fosse você faria da seguinte forma”... Quem nunca ouviu ou disse as expressões precedentes? Quem, do alto de sua sabedoria, não se arvorou no direito de sugerir, de dar um rumo a quem, em determinado momento, se encontrou à deriva? Às vezes, diante da incerteza de alguém, pode até coçar o desejo de mostrar aquilo que ele não está vendo. 
No fundo, ninguém resiste à ideia de auxiliar, de ajudar. É a solidariedade humana em ação. É a própria caridade pedindo passagem. Porém há um detalhe que faz toda a diferença. Nem todo mundo que pede uma luz está mesmo disposto a encarar o caminho indicado por outro. Além disso, não há nenhuma garantia de que a solução defendida pelo conselheiro efetivamente vá gerar a solução mais apropriada.

A sabedoria popular, formada após anos e anos de experiência, de observação empírica, decretou que conselho se fosse bom não seria dado, seria vendido. Os charlatões, cientes disso, não dão conselhos, os vendem. Muitos são escritores de auto-ajuda, outros são adivinhos, consultores de mercado, marqueteiros. Alguns são diplomados, forjados em cursos específicos. Os intuitivos, por sua vez, são doutrinados pela própria vida, desenvolvem a cara de pau, dominam o vocabulário de tal forma que nunca terão culpa se o conselho não gerar o resultado esperado.
Branco Mello, Marcelo Fromer e Tony Bellotto formavam o Trio Mamão e as Mamonetes, tocavam na garagem, faziam showzinhos para meia dúzia. Chegaram a tocar na televisão, mas os jurados não levaram muita fé. Wilson Simonal, porém, ousou dizer que teriam futuro, mas somente depois de muito trabalho para evoluir. Sérgio Britto e Marcelo Fromer tentaram a sorte no Chacrinha, mas receberam como incentivo o troféu abacaxi, o prêmio dado pelo Velho Guerreiro aos desprovidos de talento.
Neste caso os conselhos foram colidentes. De um lado a força do Velho Guerreiro a desanimar, somando-se a um grupo de jurados que não via nenhuma graça nos tipinhos e de outro uma mera exceção, Simonal. A solução foi trabalhar. Os caminhos da vida os levaram a juntaram-se, somando-se, ainda, a alguns músicos com um pouco mais de experiência. Daí surgiu os Titãs do Iê-Iê-Iê, que, contrariando a lógica dos conselheiros, vêm empilhando sucessos desde os anos 80 como Os Titãs.
A história do grupo é formada de idas e vindas. De intrigas, de abandonos e prisões, de desconfiança e de muito sucesso. Mesmo Chacrinha, respeitável palhaço, dono de um feeling para os jovens talentos foi traído. Seu abacaxi talvez tenha servido de incentivo ou mesmo tenha sido decisivo para que os jovens seguissem o rumo que desejavam. 
Não erramos ao dizer que todo o fato é multifacetado. Cada olhar colhe aquilo que a experiência do observador permite. Não acho um exagero afirmar que um espetáculo assistido por mil pessoas trata-se, na realidade, de mil espetáculos distintos. São olhares diferenciados, são traduções individuais, coincidentes e colidentes. Desta forma, difícil unificar as visões, canalizar tudo para uma forma só. 
Se o amigo leitor, apesar do esforço, não entendeu muito bem a mensagem... Se ela pareceu um pouco confusa... Se não teve muito nexo... Bem! Então, quer um conselho? 

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