31/08/2010

O desgosto e a boa nova

Todo homem sofre influência. Mesmo o mais autônomo, mais intelectualizado, mais seguro pode ceder às pressões do meio.  Sendo um ser social, o homem se relaciona com outras pessoas desde o nascimento, quando ainda é totalmente dependente dos cuidados dos genitores. Ao longo do tempo o raio de influências vai aumentando, na medida em que aumenta o círculo de convivência. Escola, amigos, escolinha de futebol, aniversários, festinhas e por ai vai. 
Nesta caminhada vamos agregando conhecimentos. Deixamos, aos poucos, o aconchego do lar, da vigilância dos olhos dos nossos pais, e vamos desbravando, descobrindo os pequenos mistérios que o mundo parece nos esconder. Mesmo que o nosso caminho seja percorrido a passos largos, aquelas primeiras impressões que temos de mundo, adquirida na convivência familiar, tendem a se fixar na memória de tal forma que vez por outra reaparecem com força.
Ocorre o mesmo com as lendas e superstições. Elas, segundo estudiosos, nasceram na infância da humanidade. Naquele período o homem, ainda frágil, temeroso da grandeza do mundo, dos mistérios da natureza, se escondia nas cavernas. Tudo era imenso, desconhecido. Durante o dia saia para enfrentar as feras, buscar comida para o bando. À noite a escuridão tomava conta, e, tal qual o menino que ouve histórias de assombrações, ele se recolhia. Tinha medo. Não encontrando explicações para os fenômenos naturais o homem exercitava a imaginação, tirando suas conclusões, hoje ilógicas, irracionais e estranhas.
Algumas delas persistem até os dias de hoje, como mitos, lendas, superstições e crendices. São transmitidas no seio familiar, de pai para filho. As mais populares são as crendices e as superstições, pois lidam com o componente mágico da sorte e do azar.  Passar por debaixo de uma escada, nem pensar. Fechar algum negócio na sexta-feira, dia 13, fora de questão. Falar a mesma palavra junto com outra pessoa é azar na certa. Cruzar por um  gato preto na rua, quebrar um espelho, sete anos de azar.
A crendice é, na realidade, a voz do nosso homem primitivo, são os vestígios de um passado, de um tempo em que não sabíamos o real significado das coisas. Depositávamos, assim, confiança no sobrenatural, valorizando coisas inócuas e fortuitas, criando leis que não se sustentam no racional, somente no extraordinário e no fantástico.
Assim ocorre também com o mês de agosto, que findou. É o mês do desgosto.  Do cachorro louco. “Acho que passo de agosto”, diziam os doentes, no passado, dando a entender que se superassem o oitavo mês entrariam com muita saúde no ano seguinte. Na minha infância, marcada também pelas crendices, de não misturar lei com uva, de não assoviar à noite (pois chama cobra), de não apontar para uma estrela pra não criar verruga, muito me incomodava este negócio de mês do desgosto. Afinal de contas não tive culpa de nascer no oitavo mês. Hoje vejo que sempre estive bem acompanhado, pois junto comigo nasceram Napoleão Bonaparte, Jorge Amado, Caetano Veloso, Zagallo, Antonio Banderas, Antônio Marculan, Dona Fausta (minha sogra) e meu compadre Jaime Dutra. Como se vê, gente de peso.
De qualquer modo, lá foi o agosto. Cruzamos por ele, ficamos mais velhos e aqui estamos juntos outra vez... esperando pela boa nova, que vai andar pelos nossos campos. Quero, tanto quanto Beto Guedes, em Sol de Primavera, ver brotar o perdão onde a gente plantou, pois “a lição já sabemos de cor, só nos resta aprender”.

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