17/04/2013

Futuros possíveis


Entre as meninas a comemoração maior acontece com a chegada dos 15 anos.  Em regra observam-se determinados rituais. Festa ou viagem? Ou as duas? Ou nenhuma das opções, eis que a grana anda curta e há coisas mais sérias para enfrentar como cursinho, faculdade, intercâmbio. Walt Disney, quem sabe?! Noruega, algumas hão de pensar. Entrarão no Google e pesquisarão lugares que nunca sonharam em conhecer, que nunca conhecerão ou, quem sabe, um dia, com mais maturidade, talvez até por lá passem alguma temporada. 
 Entre os jovens, 15 anos nada significam. Já os 18, comemorados efusivamente serão. Carteira de motorista é a primeira providência. Um carrinho seminovo se as finanças dos velhos permitirem. 
A passagem do tempo, especialmente entre os meninos, porém, nem sempre vem acompanhada da responsabilidade. Há muitos que custam a entrar na fase seguinte: a da maturidade. Viverão - como os italianos da atualidade-, por preguiça ou precisão, providencialmente perto dos seus pais. Em caso de algum problema, uma mama ou um papa de plantão de braços abertos encontrarão. Famiglia reunita. 
Eis que passa o tempo e as datas de aniversário vão se tornando comuns. Há certo relaxamento em relação à efeméride. Somente as cheias, 30, 40, 50 e as seguintes vão despertar algum cuidado maior. Por vezes elas chegam carregadas de dramas, de crises próprias da idade.
O ator Harrison Ford, de Guerra nas Estrelas, Blade Runner, Indiana Jones e outras pérolas, disse certa vez que não entendia como ainda o tratavam como um símbolo sexual. Lembrou que sua pele já não apresentava a mesma textura, os seus dentes apresentavam coloração indesejável pela inexorável passagem do tempo e seu corpo já não era aquilo que as lentes captaram num passado nem tão distante. Não mostrava amargura nem estava imerso em crise depressiva. Era um homem falando com sinceridade. Um astro que não se vê como tal, que enxerga um homem comum.  
No meu caso, que não fui e nem serei um Harrison Ford, posso modestamente garantir que o avanço do tempo, até o momento, não resultou em crises existenciais. Não fui acometido de chiliques nem desconcertos, desarmonias ou coisas afins, quando os números redondos foram sendo vencidos. Dentro de alguns meses deixo definitivamente a casa dos 40, para a qual não voltarei (pelo menos nesta encarnação). Passarei de fase, avançarei sobre a casa dos 50 e a nave seguirá como deve ser.
Um dia olharei para trás e pelos meus olhos passarão cenas rápidas, lampejos de um filme onde atuei. Por vezes lá estava como o astro principal, noutras um mero coadjuvante. Um assistente privilegiado, um editor atrapalhado, um cenógrafo ou um sonoplasta.  Poderei, então, fazer uma tolerante crítica a respeito de tudo. Não será uma comédia pastelão, pois, embora respeite o talento do Gordo e do Magro, dos Três Patetas e a ingenuidade dos Trapalhões, pouco daquilo se aplica à vida real.  Talvez um documentário, desses que passam na tevê por assinatura e que alguns desavisados, por acaso, assistem pela metade, às 15h ou às 22h50min.
Talvez seja assim. Talvez não. Importa que a gente viva e crie os futuros possíveis. Mesmo que se sonhe com festas que não teremos, com lugares que não conheceremos. Não importa. O tempo passa com vagar. A pressa não anda junto. Os números se seguem. Os redondos são mais lembrados.  

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