04/04/2013

Amor de chocolate


Nunca se amou tanto quanto nos dias de hoje. Nem nos áureos tempos dos romances, quando as moçoilas desconsoladas sofriam a imposição familiar que as afastava de seu grande e idealizado amor. Repito, o amor nunca esteve tão presente quanto na atualidade. Os jovens, então, com seus corações e suas mentes transbordando de emoções e de certezas, determinados pelo bombardeio hormonal que todos, inclusive os mais experientes, um dia estiveram sujeitos. 
Nunca se odiou tanto quanto nos dias de hoje. Os jovens, então, com seus corações e mentes transbordando de emoções e de certeza, determinados pelo dito bombardeio químico hormonal. 
Concentro-me nos jovens, nos adolescentes, eis que esta turma majoritariamente manifesta seus sentimentos com mais facilidade nas redes sociais e além dos meios virtuais. “Amo chocolate”, me diz alguém; “odeio camarão”, me diz outro alguém, que, no entanto, “ama pizza”; “amo tudo isso”, me diz uma propaganda. Ama-se o Grêmio, o Inter, a novela das nove, a Malhação.
Com mesma força e intensidade, “odeio o Inter”, o Grêmio, a novela das nove, a Malhação, o McDonalds, a TV Globo e segue a lista.
 
Enfim, como tudo na vida, o uso vai lentamente desgastando do mais tênue ao mais denso dos metais. Amor e ódio, sentimentos densos e contraditórios, que um dia foram causa de desespero, de mortes, de guerras, nos dias atuais são expressões rasas, desgastadas pelo uso corriqueiro. De certo modo são palavras que de alguma forma se descolaram dos sentidos originais. 
Claro não são as únicas. No mesmo sentido, a paixão também mudou. No mundo do Direito a paixão é o estado emocional no qual a excitação do sentimento, a perturbação, tem maior duração temporal, causando alterações nervosas e psíquicas. Porém, no mundo fático atual, paixão é meramente preferência e gosto. Nada de arrebatador, de comprometedor. “Sou a-pai-xo-na-da por pastel de queijo”, já ouvi alguém se manifestar (assim mesmo com as sílabas marcadas para dar a ênfase necessária), enquanto falava com o atendente que pacientemente anotava seu pedido na pastelaria. Certamente também era a-pai-xo-na-da pela água mineral sem gás, com limão e gelo que acabava de pedir. 
Poderia listar uma dezena de expressões que foram ao longo do tempo perdendo tenacidade. Porém, não haveria espaço para tanto. Certo é que no momento atual o que mais se nota é o gosto por certo abrandamento. Ama-se, odeia-se, apaixona-se pelo time, pela comida, pela guloseima, pelo programa de tevê, pela música, pelos cães. 
É muito amor por coisas e pouco pelas pessoas, pela família e pelo outro, concluiu dia desses um conhecido escritor gaúcho. Nem vou citar seu nome porque, com certeza, muitos vão de-tes-tar. 

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