04/06/2015

Feijão e Arroz


Faz frio. Leonel caminha pela cidade. O vento é cortante. Passa pela sua jaqueta, pouco caso faz da camiseta. Sente súbita fraqueza. Também, já são 12 horas. Acordou cedo. Tomou um café ralo. Café com leite, um pedaço pequeno de mamão, um biscoito. E começou com as tarefas do dia.
Havia chovido. O apartamento tinha cheiro de queimado misturando-se com a umidade do dia inteiro de chuva. Borrifou para o alto uma essência de cravo e canela. Alguns minutos depois, o ranço venceu. Estava ainda de meias e pijama. “Disciplina é liberdade; compaixão é fortaleza, ter bondade é ter coragem”, cantava Renato Russo no pequeno som na sala, espalhando sua dor, suas dúvidas, sofrimentos e paixões. Achou que a vizinha, uma senhora simpática, mas com certo ar triste, talvez não precisasse ouvir a música que escolheu. Reduziu o volume.

A vassoura, o balde, o desinfetante, o pano de chão e a pazinha se tornaram seus parceiros de uma limpeza sem método, sem pressa e talvez sem muita precisão. Eis que na janela surge o sol. Tímido, é verdade. E a chuva continuava mesmo assim, como se querendo manter a superioridade. Mas, foi vencida.
A fraqueza no corpo continuava. Limpou como pode, tomou um banho para espantar a preguiça, desceu, andou, pensou: É fome, claro! Não queria muita coisa agora, um arroz branquinho no prato, algumas colheres de feijão feito pela sua tia e um prosaico ovo com a gema ainda amarelinha, mole e insinuante, quase pedindo para ser furada e pronta para escorrer sem preocupação pelo prato.
 Não se tem tudo o que se quer, pensou filosoficamente Leonel. Por isso, procurou pacientemente um destes restaurantes que aliam o baixo preço e a qualidade possível. Encontrou uma porta aberta. Sentou numa mesa de quatro lugares, longe do buffet para não carregar o cheiro de fritura a tarde toda. Sem ovo, sem feijão da sua tia. Mas, o arroz era branco. E o preço era pequeno. E ainda tinha direito a um pedaço de carne. E uma sobremesa pouco criativa. Um luxo. Por pouco, muito pouco.

            

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