11/12/2015

Quando o apelo comercial corrompe

A atividade comercial praticamente nasceu com o homem. Segundo se diz, ela pode ter sido mesmo um fator determinante para o progresso, tendo em vista que a necessidade de consumo esteve por trás dos movimentos migratórios e, posteriormente, na produção em série que desenvolveu a indústria gerando empregos e investimentos pesados em novas máquinas e tecnologias.
No início, estas relações eram marcadas pela troca. Os excedentes de um eram trocados pelo excedente de outro. A pele do animal por um naco de carne. Sal, açúcar, gado, cavalos, cabras, frutas, tudo poderia ser trocado. Até mesmo serviços. Um cavalo pelo cercamento de uma área. Um boi por uma canoa. Era o chamado escambo. O objetivo era tão somente o atendimento das necessidades mais básicas. A prática ancestral previa a troca sem a preocupação com o valor das coisas.  
Ao longo dos tempos, o homem começou a transitar por grandes distâncias na busca de mais território e por produtos diversificados. A moeda surgiu como substituto das mercadorias, reduzindo assim a carga a ser trasportada. O processo evolutivo do mecanismo de comércio foi longo, como tudo na natureza.  Certo é que em dado momento histórico o lucro passou a balizar a conduta mercantil. E isso permanece até os dias de hoje.
A engenhosidade humana é fantástica. A produção em série levou a excedentes.  E os produtos estocados geram prejuízo. E o prejuízo ao desemprego e à falência do produtor. Então a conta só fecharia se as vendas crescessem. E não magicamente surge o marketing de vendas. A propaganda é a alma do negócio, diz a sabedoria popular. E realmente vem sendo assim desde a Antiguidade Clássica, onde se encontram os primeiros vestígios de publicidade. Na época, os anúncios escritos em tabuletas estavam relacionados às lutas de gladiadores nas arenas e os indispensáveis serviços das casas de banho.
A publicidade progrediu. A estratégia não permite somente anunciar os produtos com base nas necessidades das pessoas. O foco agora encontra-se na criação de novas necessidades. E as datas comemorativas são caminhos adequados para isso. Dia das Crianças, Dia das Mães, Dia dos Pais, dia disso e dia daquilo. Tudo virou motivo para incrementar as vendas. A melhor de todas as datas, sem dúvidas, é o Natal. 
Isto ocorre por vários fatores. Neste período, as pessoas encontram-se mais suscetíveis emocionalmente. A propaganda massiva e o componente religioso contribuem de maneira decisiva. Além do mais,  todos os seres humanos gostam de receber presentes.  Sentimentalmente corresponde a ser lembrado, a ser bem quisto.
No entanto, já de longa data nota-se que o costume de presentear, mesmo que salutar, sofreu  uma corrupção. Reina absoluto o presente, o objeto. Presentear é uma obrigação. Não é incomum a cena de crianças e mesmo adultos frustrados porque não ganharam aquilo que desejavam ou mesmo aquilo que pediram de presente. Comum, também, os olhos brilhantes em direção ao pacote artisticamente acabado e o pouco caso em relação ao indivíduo que presenteou.
O Natal, cercado de simbolismo que remete à fraternidade, ao amor ao próximo, compreensão, tolerância e caridade vem sendo esquecido. Foi substituído pelo objeto.    E com  isso, perde-se ímpar oportunidade de propagandear uma vida mais fraterna e mais verdadeira, baseada não no material mas na essência espiritual. 
Claro que é extremamente válido o congraçamento entre as pessoas, o compartilhamento de sentimentos verdadeiros, sempre possível entre aqueles que conseguem traduzir o real  significado  que este período se reveste.  Em regra, porém, é sábio o pensamento popular, cunhado por  alguém muito espirituoso em forma de trocadilho: a propaganda é a arma do negócio. 

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